FAZENDA TUCUNZAL
CHICO COSTA
Era janeiro e por ocasião do inverno moscas chamadas de meruanha atacavam o gado em todos os sítios localizados no topo da serra da Ibiapaba, motivo esse aliado ao frio serrano faziam Chico Tomaz e Alcides seu filho partirem em retirada com o gado e suas famílias para a fazenda Tucunzal, que ficava a poucos quilômetros de distância do sopé da mesma serra do lado piaiense. As margens da BR 222 que liga os Estados do Ceará e Piauí eles construíram suas casas, sendo uma de cada lado da rodovia. A fazenda era muito bonita, possuía um vasto páteo gramado com algumas árvores de sombra que servia de guarida para o gado nos dias de chuva ou sol intenso. Lá ao pé de um pequeno serrote corria uma grota que nascia de um olho d’água. Em jumento com cangalha e canecos lhes eram fornecida a água potável que embora turva, não causava doença nenhuma aos seus familiares. Em tempos de estiagem o bioma da caatinga favorecia com a cabeça da macambira (bromelia laciniosa) uma alimentação rica em amido para o gado e demais criações. O fervor religioso do nordestino fez com que Chico Tomaz e Alcides erguessem uma pequena igreja para aos pés do altar de São Francisco das Chagas fossem feitos os agradecimentos, de à cada ano eles terem os corações cheios de esperanças para com a proteção divina haver bom inverno, para ali passarem uma bela temporada de inverno. O tempo passou e ambos morreram, houve a partilha das terras e os herdeiros que lá ficaram não conseguiram manter a ordem e conservação. Um lote de terra foi vendido para uma pessoa evangélica que fez da igreja o curral dos seus bodes e as casas deixara em ruínas. Outros tempos chegaram e Assis Tomaz, filho de Alcides e neto de Chico Tomaz que se orgulhava de tal linhagem readquiriu parte da fazenda e depois de muitas diligências alcançou êxito em reaver a imagem de São Francisco de volta a fazenda Tucunzal. Uma casa com energia elétrica foi construída e uma nova igreja foi erguida, obras que culminaram com o ponto de honra na tradição familiar. Em momentos de profunda meditação, ele acreditava estarem seus antepassados presentes as missas que ali eram realizadas. Seu rebanho de bodes se igualava aos de carneiros que eram criados em seu sitio no lugar chamado Taboca. O poço artesiano tomou o lugar das viagens de jumentos com cangalhas e canecos ao pequeno olho d’água e a ração industrializada a das cabeças de macambira. Assis Tomaz de formação universitária era negociante empreendedor estabelecido em Fortaleza, mas não deixava de fazer seus negócios de forma matuta e inteligente. Seu primo Chinfronésio Candido de Albuquerque que morava lá para as bandas de São Paulo, quando em visita a sua fazenda ficou perplexo ao presenciar o descarregamento dos bancos da igreja, pois Assis os recebera em troca de alguns carregamentos de fezes de bode para adubar as hortas e outras plantações do marceneiro Aboim. Mais tarde quando se espreguiçava Chinfronésio numa rede do ventilado alpendre viu chegar um vaqueiro a procura de Assis, ambos conversaram e logo saiu a troca de um cavalo por oitocentos litros de cachaça. Assim satisfeitos selaram o negócio tomando uns goles e tirando o gosto com um guisado de bode.
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