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domingo, 6 de maio de 2012

A morte de Amelia - Dinah Ribeiro Amorim





A MORTE DE AMÉLIA!
Dinah Ribeiro de Amorim

  Era uma moça bonita, morena jambo, atraente e sedutora. Não percebia sua sensualidade, sua capacidade de atração.

  Namorava André desde a infância, desejando casar com ele, satisfazendo as famílias de ambos e a si própria. Se realizaria como mulher, esposa e mãe, não imaginando outro homem na sua vida.

  Noivos há dois anos, pretendiam marcar logo a data do casamento, assim que a situação de André melhorasse.

  Amélia não sabia que André, acostumado com ela, respeitava-a muito e, realmente, queria-a como esposa mas, traia-a de vez em quando, fora da cidade, para variar. Não lhe era fiel.

  Ivan, um amigo do casal, simpatizava muito com Amélia e costumava acompanhá-los em passeios e bailes. Na verdade, nutria por ela um amor oculto, sabendo que jamais teria alguma chance.

  Eis que André, sempre às escondidas, conhece Anita, uma linda moça de fora, visitando seus tios na cidade. Fica admirado e enternecido com os olhos azuis e cabelos louros da moça, diferente da sua Amélia. Resolve ter com ela um caso, levando-a para um motel longínquo, lugar meio escuso, só para namorados.

  Ivan, meio tristonho e angustiado, sozinho, resolve também sair e levar Rosa, uma amiga sua muito apaixonada, para o mesmo local, na intenção de se alegrar um pouco. Todos os jovens namoravam lá.

  Na saída, na hora do pagamento, encontram-se os dois: André e Ivan que, muito sem jeito o primeiro e, espantado o outro, ficam sem ação. Não sabem se conversam ou não. Pagam suas contas e vão embora. Cada um para seu lado.

  Na volta, Ivan pensa: “Chegou minha hora. Acabo com esse noivado e fico com Amélia.

  Na primeira oportunidade que teve, denunciou o outro para a noiva.

  Esta, desesperada, decepcionada, não acredita de imediato mas, inquirindo André  sobre suas saídas, percebe nele a mentira. Conhecia-o muito bem e sabia analisar até suas expressões.
  Desfaz o noivado e, triste, refugia-se em casa, com vergonha e dor.
  Ivan vai visitá-la e, sem muita habilidade, declara seu amor por ela.

  Amélia não sabe se o afugenta ou o consola, negando-se a aceitá-lo. Gostava dele como amigo mas nunca o imaginara como amante.

  O rapaz, ferido em seu orgulho, mais uma vez, sai, prometendo não mais procurá-la.

  Esta, aborrecida por ter perdido o noivo e o amigo, apanha um agasalho e sai também de casa, caminhando a esmo. Tem necessidade de andar para não pensar. Quando percebe, está na linha do trem, sem se importar se é perigoso ou não.

  Não houve o apito dele que está chegando e sim o barulho de um tiro, vindo do meio do mato e atingindo-a na cabeça. O trem consegue parar bem à frente da moça caída. Amélia é socorrida pelo maquinista mas morre antes de chegar ao hospital.

  A polícia é chamada. Não fora suicídio. Pelos antecedentes da moça, segundo o delegado Cunha, trata-se de um crime passional. Como descobrir o assassino seria um trabalho sério a desvendar. Dois suspeitos  principais são chamados: André e Ivan. Um, porque “ela” havia terminado o noivado, por motivos óbvios e, outro, porque havia sido rejeitado. Todos , na cidade, sabiam do seu amor oculto e foi a última pessoa a vê-la com vida.

  Trabalho difícil para o investigador Cunha. Que fora crime passional, já sabia mas, qual dos dois havia atirado em Amélia, levaria tempo para investigar. Verificar quem possuía arma, o tipo de tiro, entradas e saídas dos dois no horário do crime, qual deles ficara mais revoltado com a situação, mais incapaz de aceitar uma rejeição, coisas que toda polícia investiga no trabalho para a solução de um crime.

  Quem teria o maior motivo, levando à morte essa pobre moça, já tão arrasada com os últimos acontecimentos em sua vida.

  Estudando várias possibilidades, inquirindo prováveis testemunhas, examinando e investigando os dois suspeitos, Cunha foi descobrindo  desenrolando o fio da meada. Conseguiu chegar a Anita, satisfeita por ter continuado o namoro com André, após todo esse escândalo e, à Rosa, amiga íntima de Ivan, antiga e fiel apaixonada.

  Pronto, mais duas suspeitas prováveis do crime: Rosa, com inveja e raiva de Amélia, pela dor causada em Ivan, a quem amava desvairadamente e, Anita, a única que se dera bem com tal acontecimento.

  A arma do crime ainda não fora encontrada e os dois suspeitos principais possuíam fortes álibis para a hora do tiro. André estava fora da cidade, a serviço e, Ivan, fôra chorar sua mágoas na casa de um casal idoso, moradores de um sítio distante, uma espécie de padrinhos, que confiava muito.

  Restavam as duas moças. Aonde estavam na hora do crime.

  Anita, envolvida no escândalo, resolvera sair da cidade por uns tempos, voltando à casa dos pais.

  Rosa, após ouvir as lamúrias de Ivan, antes que ele viajasse para o sítio, compadece-se mito dele e, revoltada, tranca-se no quarto, por horas, segundo sua mãe.

  O investigador Cunha sabe que qualquer um deles poderia ter sido mas, seu instinto de policial se inclina mais por Rosa. A única a estar na cidade, trancada no quarto, com testemunho da mãe. Resolve investigar mais sua vida e descobre que havia um certo desequilíbrio em sua maneira de ser e viver. De todos, era a única que já havia tido porte de armas, abandonado várias vezes a casa dos pais e sempre terrívelmente apaixonada por pessoas que não correspondiam. Era muito infeliz!

  Resolve chamá-la algumas vezes e fazer-lhe mais perguntas.

  Aos poucos, percebe nela um ódio intenso à moça morta e uma enorme dedicação a Ivan.

  Poderia sim ter vingado a dor que ele estava passando.

  Sobre a arma que possuíra, não soube responder. Havia perdido por aí. Gaguejara bastante nessa hora.

  Tudo mudou quando a arma do crime foi encontrada, jogada num riacho, perto da linha do trem. Não possuía mais digitais mas era a mesma de onde partira o tiro. Rosa foi novamente chamada e descobriu-se o local em que comprara a sua. Eram iguais. Faltava a confissão. Pressionada, confessou tudo. Atirara sim na moça, como castigo, raiva, inveja, por ter sido tão amada e rejeitado seu único amor: Ivan. Era e foi solidária a ele a ponto de tomar ma decisão, o crime, mostrando seu desequilíbrio como tentativa de solução!

                                    
 

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