Um contentamento cescontente
Carmen Lucia Raso
Ana subiu correndo a escadaria
do prédio suntuoso, atravessou o grande portão de ferro trabalhado, correu pelo
corredor que levava à sua sala.
Acenava e cumprimentava os
funcionários e colegas que há tanto tempo conhecia.
Parou diante da porta,
respirou profundamente e esperou que o professor lhe permitisse a entrada. Sorriu
“aberta e timidamente” e a “ passos
largos caminhou devagar” até seu lugar.
Era o último ano da Faculdade
de Medicina. Havia recebido a notícia que ganhara a Bolsa para cursar na Alemanha
a especialização em neuro-cirurgia.
Sua alegria irradiava tanta
luz que não notava seu “solitário andar por entre a gente”, mas todos percebiam
algo diferente.
Os demais alunos voltaram a
concentrar-se na análise microscópica de células humanas que faziam. O
laboratório “cheirava a éter e humano, vivo e morto”.
Sentou-se mais perto de seus
colegas para enfim descobrir que neste momento o resultado da análise
microscópica não era o mais importante e
sim que estava “presa por vontade” em sua Bolsa de Estudos.
Sentia um “contentamento
descontente” de estar ali, em sala de aula, sabendo que tinha tantas coisas a
fazer.
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