"MEDO"
Hirtis Lazarin
Abriu os olhos
gemendo de dor. Levou um chute no
tornozelo. Foi desse jeito que o
cobrador do ônibus conseguiu acordá-lo.
Quando desceu do coletivo se deu conta que era o último passageiro.
Encontrou uma
noite escura, gelada e solitária. Até o
boteco da esquina, onde toma o últmo gole de cachaça do dia, já estava
fechado.
Estranho...Uma sensação
esquisita deixou seu corpo todo arrepiado.
Bobagem...nunca foi homem de ter medo.
Seguiu seu caminho. Postura envergada menos pelos anos vividos e
mais pelos maltratos da vida difícil.
Aparência descuidada e maltratada.
Olhos tristes. Dava dó.
Os passos lentos
e monótonos repetiam a monotonia que era sua vida. Ambição? Vontades?
Nem tempo pra isso tinha.
O pio estridente
de uma coruja atrevida assusta-o e lá vai um palavrão.
Ao mesmo tempo, ouve passadas vindas de
trás. Para. Olha.
Firma mais o olhar. Apenas um
vulto. Tudo era um breu só.
Muda de
calçada. O vulto também. Suas passadas agora são mais rápidas, mais
pesadas. Tem certeza, está sendo
seguido. O coração dispara, um calafrio
percorre-lhe a espinha, gotas de aflição escorrem pelo rosto, a boca seca, tem
gosto amargo de jiló.
Toma
coragem. Olha pra trás novamente. O vulto virou um homem forte armado de
pistola.
As pernas de
Gregório ganham força (nem sabe de onde), se alongam e partem em
disparada. Mais parece uma girafa que
pressente o leão faminto.
O inimigo já está
bem próximo. Gregório ouve o estalido da
arma engatilhada. Um curta-metragem da
vida roda na sua cabeça. Não quer
morrer. Prefere a vida desgraçada que
leva.
Um estampido
forte e seco.
Um corpo cai
agonizante.
Um líquido grosso
e adocicado sai daquela boca desdentada e mancha o chão de vermelho.
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