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sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Medo - Hirtis Lazarin


 

   "MEDO"
Hirtis Lazarin

     Abriu os olhos gemendo de dor.  Levou um chute no tornozelo.  Foi desse jeito que o cobrador do ônibus conseguiu acordá-lo.  Quando desceu do coletivo se deu conta que era o último passageiro.

      Encontrou uma noite escura, gelada e solitária.   Até o boteco da esquina, onde toma o últmo gole de cachaça do dia, já estava fechado.  

Estranho...Uma sensação esquisita deixou seu corpo todo arrepiado.  Bobagem...nunca foi homem de ter medo.

     Seguiu seu caminho.  Postura envergada menos pelos anos vividos e mais pelos maltratos da vida difícil.  Aparência descuidada e maltratada.  Olhos tristes.  Dava dó.

     Os passos lentos e monótonos repetiam a monotonia que era sua vida.  Ambição? Vontades?

Nem tempo pra isso tinha.

     O pio estridente de uma coruja atrevida assusta-o e lá vai um palavrão.

  Ao mesmo tempo, ouve passadas vindas de trás.  Para.  Olha.  Firma mais o olhar.  Apenas um vulto.  Tudo era um breu só.

     Muda de calçada.  O vulto também.  Suas passadas agora são mais rápidas, mais pesadas.  Tem certeza, está sendo seguido.  O coração dispara, um calafrio percorre-lhe a espinha, gotas de aflição escorrem pelo rosto, a boca seca, tem gosto amargo de jiló.

     Toma coragem.  Olha pra trás novamente.  O vulto virou um homem forte armado de pistola.

     As pernas de Gregório ganham força (nem sabe de onde), se alongam e partem em disparada.  Mais parece uma girafa que pressente o leão faminto.

     O inimigo já está bem próximo.  Gregório ouve o estalido da arma engatilhada.  Um curta-metragem da vida roda na sua cabeça.  Não quer morrer.  Prefere a vida desgraçada que leva.

     Um estampido forte e seco.

     Um corpo cai agonizante.

     Um líquido grosso e adocicado sai daquela boca desdentada e mancha o chão de vermelho.


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