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quarta-feira, 19 de junho de 2013

ELA FOI ACARICIADA PELO SABOR CROMÁTICO DE UMA FRAGRÂNCIA MUSICAL - Dinah Ribeiro de Amorim


ELA FOI ACARICIADA PELO SABOR CROMÁTICO DE UMA FRAGRÂNCIA MUSICAL.
Dinah Ribeiro de Amorim

  Entrou estremecida pela ausência de brilho do aposento em que todos dormiam, sob aconchego de seus cobertores, interrompidos, às vezes, com gemidos assustadores. Sonolentos, abriam levemente os olhos e voltavam a dormir, descansando corpos cansados em camas estreitas, fincadas no chão frio da noite chuvosa.

  Desceu vagarosamente as escadas tilintantes que gemiam com seus passos em chinelos duros.  Alcançou o térreo e olhou pela vidraça embaçada a ver se distinguia barulhos levantados na noite escura.

  Nada que pudesse lhe atiçar os nervos e a astuta curiosidade que a perseguia. Ao longe, muito longe, gemidos lacrimosos a angustiavam. Talvez um cachorro desamparado, homem machucado, alguém em sofrimento.

  Abre a porta ferrosa com força e sai ao relento sentindo o gelo seco da madrugada. Seu rosto pálido se comove.

  À medida que caminha, os gemidos angustiantes se transformam em melodia, uma doce , suave melodia, semelhante ao som de piano tocando harmoniosamente sinfonia de Chopin ou Beethoven, vinda de algum lugar obscuro. Não conseguia identificar embora aguçasse a audição e equilibrasse a atenção.

  Passa ao lado um senhor idoso, sombra escura semelhante a um  tronco de árvore, sem raízes e galhos, desfolhado pelo vento. Pergunta-lhe de onde viria aquela música, mas ele, assustado,  responde-lhe que não está ouvindo nada, melhor seria que ela fosse para casa!

  Dá-se conta, de repente, do adiantado da hora. Talvez só ela tenha ouvido e sentido o sabor cromático e acariciante dessa música que deixa no ar uma fragrância de paz e amor!

  Volta às pressas para a casa sonolenta, envolta em mistério, procura sua cama vazia, ausente do corpo jovem e deita-se sob chairel de retalhos de lã, à espera do sono chegar.

  Na sala, o relógio badala galhofeiro, zombando de sua insônia: quatro horas! Que noite estranha...
  

Um comentário:

Anônimo disse...

por favor, lembre-se de identificar GIULIANO FRATIN o autor dessa frase
"ELA FOI ACARICIADA PELO SABOR CROMÁTICO DE UMA FRAGRÂNCIA MUSICAL -

(sinestesia, entre outras registradas na Biblioteca nacional)