BLOG NOVO: CONTOS DO ICAL


sábado, 22 de junho de 2013

UM TIPO CAIPIRA MESMO! - Dinah Ribeiro de Amorim


UM TIPO CAIPIRA MESMO!
Dinah Ribeiro de Amorim

Chico Bento é um caipira da roça, genuíno. Nunca morou em outro lugar. Lerdo como uma mula, barrigudo, narigudo, olhos pequenos e curiosos. Seu cabelo desajeitado, vive coçando, principalmente quando entra em pensamento confuso. Acho que nunca usou um pente de verdade. Só água, de vez em quando.

Botas velhas e calças curtas, seguras por um suspensório, coloca um chapéu de palha na cabeça quando o sol é muito forte. De manhãzinha, percorre o sitio, herdado do pai, para ver a plantação. Não gosta muito da lida no campo, seu negócio mesmo é roncar na rede durante a tarde, quando dá um sorriso sem dentes, muito satisfeito.

É casado com Nha Zita, possuindo dois filhos, exatamente iguais a ele. Não vão à escola do povoado, brincam um pouco e dormem muito. Cabe à mãe o trabalho da casa e o plantio  de alguns legumes e verduras para o sustento da família.

Nha Zita já desistiu de se queixar ao marido o excesso de trabalho. (Neste local melhor seria um ponto em vez de vírgula. E deveria ser MAS em vez de POIS). Mas,  Chico Bento  nasceu assim, um molenga, sem iniciativa, muito feliz como é, sem pretender mudar.

Gosta da vida do campo para dormir, sonhar, olhar o sol de dia,  e as estrelas à noite quando o céu fica cheio de luzes! Barulhos de sapos coaxando, galinhas cacarejando, galos cantando quando elas botam ovos, plantas nascendo, cachorros latindo ao longe, são murmúrios relaxantes aos seus ouvidos, tão acostumados a eles.

Numa manhã chuvosa, passa um vaqueiro pelo portão do sítio e vendo muita terra para arar, pergunta a Chico Bento se não queria um auxiliar para o serviço.

Ele coça a cabeça, pensativo, achando difícil responder.  Mas, Nha Zita, mais que depressa, o convence a dizer sim.

O vaqueiro, chamado Tibúrcio, cabra macho, forte como um touro, trabalhador, além de arar a terra, começa a botar olhos cobiçosos em Nha Zita que, espantada, não se faz de rogada, sentindo-se atraída por ele.

Acabam fugindo, deixando Chico Bento e os filhos para trás.

Sozinho, quando se dá conta do acontecido, ele olha bem para os filhos, coça muito a cabeça, suspende as calças que estavam escorregando e faz cara de bravo, de quem não vai deixar barata esta história. Mas, aos poucos, vê sua rede macia, seu sítio ensolarado, os brinquedos prediletos dos filhos: gangorra e balanço na árvore; desiste de tomar qualquer iniciativa. Deita-se gostosamente na rede, puxa um cigarrinho de palha que fumava de vez em quando, manda os filhos brincarem e dorme tranquilamente.

  Amanhã pensaria no que fazer. Êta Chico Bento, lerdo até para sofrer!                                                                   


Nenhum comentário: