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sexta-feira, 28 de maio de 2010

Noivado virtual - Isabel Sousa



Noivado virtual
Isabel Sousa

Em tempos passados escrever cartas era o meio mais comum de comunicação. Essa prática está quase extinta.
 A internet veio a todo o vapor, veloz e espontânea. Porém, através dela nossa alma não se desnuda, é tudo muito mecânico.


Dizia-se que a forma de escrever revelava nosso caráter e personalidade.


Havia até um intercambio chamado:


“A tua letra fala de ti”.


Será que fala mesmo?


Pensando nisso poderemos entender a história que vou contar:


João colocou um anuncio em um Jornal diário que dizia o seguinte:


“Cidadão de 25 anos – bom caráter- mora fora do Brasil, deseja conhecer moça de boa família para um futuro relacionamento amoroso.


“Enviar carta para este Jornal.”


Deste modo seguiu a história.


João recebeu várias cartas, e, pela letra – redação – firmeza na escrita – singela discrição... Decidiu-se pela de Janaína.


Assim começaram uma longa troca de cartas onde ambos expunham no papel todos os seus anseios – sonhos – frustrações – deixando transparecer suas almas.


No fim houve troca de fotos e nada de decepções. Sentiam-se felizes no lusco-fusco da relação.


Até que João decidiu abrir o jogo; e propôs a Janaína escrever uma carta a seu pai pedindo o consentimento do mesmo para um futuro e próximo enlace.


A carta seguiu nestes termos:



Senhor Manuel
Estou apaixonado por sua filha, há muito nos correspondemos, venho pedir sua aprovação para ficar noivo de Janaína.
Como eu moro na Inglaterra e ela no Brasil, não vejo necessidade de maiores despesas, se nos conhecemos através de cartas e nos amamos nada impedirá que nos casemos por procuração.
Que tal a idéia?
O senhor arruma aí uma pessoa idônea para eu enviar a minha procuração.
Após a cerimônia Janaína virá ao meu encontro para uma longa e duradoira lua de mel. Ela irá conhecer os famosos nevoeiros londrinos e toda a Grã Bretanha.
Um grande abraço.


Seu futuro genro,
João

Ora o seu Manuel, na sua simplicidade, um tanto atônito, consultou a filha, que se mostrou encantada com a originalidade e se confessou também apaixonada.


Desta forma seguiram todos os tramites e tudo foi consumado.


Passado tempo João e Janaína vieram ao Brasil reverem parentes e amigos para que todos pudessem constatar que é possível as pessoas se conhecerem escrevendo cartas e mais cartas, lê-las e relê-las...


Até hoje eles acreditam que a escrita mostra quem nós somos.


Será?


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