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sábado, 1 de maio de 2010

O DIA D - CIDA BIANCHINI




O DIA D
CIDA BIANCHINI

Claire abre a janela do quarto do hotel e deixa o vento bater em seu rosto, exteriorizando prazer e paz, muita paz...

Do vigésimo andar, o visual da cidade é perfeito. Apesar do longo tempo ausente, tudo parece estar como antes.

Madri é clássica, pensa e delira... Por instantes deixa-se banhar por um saudosismo que não lhe é peculiar.

De origem francesa, mas vivendo há longos anos na África, nunca deixou de amar a Espanha em especial Madri, onde costumava passar férias na companhia da mãe.

Após o banho, prepara-se para o primeiro passeio, dentre muitos ao longo do dia.

Devagar, quase parando, passa pela Avenida arborizada, gozando da beleza, no cair das folhas amarelecidas, típico cenário do outono, além da gostosa sombra naquele dia quente, atípico àquela estação.

Em seguida, visita alguns museus, igrejas, almoça num restaurante francês e degusta o prato com sabor de saudade do amor que, por mais que quisesse não conseguia esquece-lo.

Assim o dia passa numa incrível rapidez, até chegar ao final da maratona de passeios. O último ponto turístico a ser visitado é a Praça Puerta Del Sol, ponto de encontro dos turistas. Depois de ter feito novas amizades, já batendo o cansaço, no declínio da noite, entre coloridas luzes, é atraída ao Bistrô, onde mais uma vez ressoa na caixa da lembrança a voz de sua mãe:

É impossível passar pela Praça Puerta Del Sol e não saborear os deliciosos croissants...

Sobe lentamente os poucos degraus de mármore carrara e depara-se com a clássica cadeira, que parece estar a sua espera. Senta-se. Pernas cruzadas cobertas pelo transparente vestido azul e o branco xale, levemente jogado aos ombros, bem ao estilo francês.

Faz charme, tocando os cabelos com as pontas dos dedos, enquanto esboça leve sorriso à chegada do garçom, que, também sorri, porém com certo espanto ao vê-la.

“La Belle de Jour” , pergunta ele... Merci, merci beaucoup, reponde ela, entendendo como elogio.

O garçom também de origem francesa, parece demonstrar certo nervosismo, ao se aproximar de Claire, para servir o cafezinho, o que lhe causa certa estranheza.

Na verdade ele está mesmo transtornado. Enquanto olha sem cessar a bela jovem, vê passar nitidamente em sua mente,o filme de dez anos atrás.

La Belle de Jour, assim conhecida pela sua beleza, fora manchete nas primeiras páginas dos jornais em todo mundo, acusada de articular um grupo internacional de estelionatários ligados a máfia italiana.

A última vez a ser vista fora no mesmo local em que Claire se encontra agora. Tal fora a astúcia da jovem perseguida pela polícia, ao conseguir uma fuga espetacular não deixando vestígios e até hoje não encontrada.

O que fazer agora, pensa o garçom rapidamente. Devo ser perspicaz a fim de obter informações precisas quanto ao seu roteiro de viagem e informar a polícia para que desta vez a foragida seja finalmente presa.

Com naturalidade a moça informa tudo ingenuamente e despede-se do garçom.

Volta para o hotel, arruma as malas com ansiedade, pois a saudade da família bate forte.

Ao chegar no aeroporto, depois de fazer o check-in, dirige-se à sala de embarque e vê-se cercada por dezenas de policiais. Em seguida é levada à Agencia da Policia Internacional.

A Imprensa aglomerada disputa o melhor ângulo para levar a bombástica notícia. Um dos jornalistas por descuido, deixa transparecer o título da matéria, em letras grandes, certamente para ilustrar novamente a primeira página do seu jornal:

“ Após dez anos de fuga, La Belle de Jour acaba de ser presa...

Enquanto isso a capacitada Polícia Internacional Européia, analisa com seriedade e eficiência, o extraordinário caso que, há alguns anos chocou a Europa. Claire deixa-se fotografar, sem esboçar nenhuma palavra e sem entender o que está acontecendo. No final da madrugada, constata-se que a linda jovem é apenas uma sósia tão perfeita da foragida Belle De Jour, que, a princípio confundiu a própria polícia.

De fato, eram pessoas fisicamente idênticas, mas de personalidades opostas, pois, Claire trabalha como voluntária em uma ONG, na África, cuidando de crianças pobres e abandonadas.

A Polícia e o garçom, pedem desculpas, mas a imprensa agradece pela dimensão da notícia, enfatizando a imagem de Claire.

“Esperávamos falar de La Belle de Jour, e acabamos falando de La Belle du Monde, concluía um outro jornal.

Na inesperada noite de uma psêodo fama, Claire marca sua história enviando beijos para seus ” enfants” carentes.


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