Pequenos sonhos
Isabel Sousa
O pobre homem todos os dias fazia o mesmo percurso.
Montado em seu burrico com dois recipientes de água pendurados na montaria do animal.
Em seu punho, um rebenque para cutucar o simpático jumento se necessário fosse.
Pingas de suor escorriam-lhe pelo rosto cansado e sempre taciturno. Aquele trajeto virou rotina.
No fundo sentia aviltante tal situação, mas com braço forte seguia em frente.
Sua mulher o esperava com um sorriso amarelo, e pegava os vasilhames despejando-os em recipientes improvisados para enfrentarem aquela seca maldita.
Cansados, um dia combinaram vender seus parcos haveres e com o produto dos mesmos rumaram a São Paulo.
Oh! Terra sonhada, quase idolatrada!
Chegados ao seu destino alugaram um barraco numa encosta. Em baixo o córrego corria tranqüilo e manso...
Não muito longe dali havia uma escola onde as crianças poderiam ir a pé.
Parecia tudo perfeito para recomeçar uma nova vida.
Logo ele arrumou trabalho na construção civil e a mulher de diarista em casa de uma boa família.
Depois do trabalho ele regressava ao seu pequeno lar, e feliz abraçava a companheira e lhe dizia sorrindo:
“Mamana” querida!
Beijava as crianças, conversavam um pouco, não tinham muito assunto. E a comida fumegava sobre a mesa da cozinha.
Rotina?
Seria... Se um dia, uma violenta tempestade não desabasse repentinamente. E foi um daqueles dias em que a Natureza se tornou agressiva e revoltada, parecendo dizer:
Comigo ninguém pode! Às vezes sou linda – maravilhosa – porém, há momentos que me enfureço, lembrando aos homens que há lugares que são só meus, ou alertá-los então, para se precaverem ao usá-los providenciando os necessários cuidados.
Foi em um dia desses que a Natureza se enfureceu que fez desabar a humilde habitação e todas as outras ao seu redor.
Os “heróis” desta história desolados preferiram regressar às suas origens e, lá foram rumo de novo ao sertão.
Resolveram não se obsedar mais e aceitaram aquela vida rotineira e quase vazia, tentando serem felizes com seus pequenos sonhos.
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