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segunda-feira, 23 de agosto de 2010

A MENINA ESPOLETA - Maura Fernandes



A MENINA ESPOLETA


(Lilica)

Havia lá no interior do RN, onde sabão não lava, e Judas perdeu as botas, uma fazenda por nome: São Pedro. Nesta fazenda havia muita alegria e paz.

Seus proprietários eram muito alegres e felizes. Senhor Johan e Donatila. Ele marinheiro, ela Comerciante e fazendeiros. Uma família grande 12 filhos legítimos, e mais oito sobrinhos que ela tomava conta; fora as crianças, filhos dos colonos que também eram tidos como da família. Ali naquela casa enorme, nasceu uma princesinha, a filha caçula à Liboânia, que a apelidaram de Lilica.

Está menina, deu o que fazer nesta fazenda. Pra começar, todos os filhos, nenhum teve o privilegio de ser amamentado mais de três meses; ela foi amamentada seis meses!

Era gorduchinha linda e bonitinha! Com um ano de idade começou a aprontar suas artimanhas e peraltice. As Amas já sentiam diferencia dela, com as outras crianças. Ao engatinhar já entrava na bodega e derramava os cereais no chão, farinha, açúcar, feijão, milho, goma de tapioca, e misturava tudo e gritava como se estivesse alguém mexendo com ela. Como em volta da casa tinha muitos pés de cajueiros, junta muitas abelhas, pois é, as abelhas fizeram um favo dentro da loja. E a Lilica via tudo o que agente não via, e deparou-se com as abelhas, e lá ficou brincando e ninguém sabia onde ela estava, pensavam que ela estava dormindo porque estava um silencio!...

Quando a moça que cuidava dela, viu a cena ficou estarrecida.

Não sabia se gritava ou se chorava, e a Lilica coberta pelas abelhas. Deu o que fazer para tirá-la de lá! Foi

uma novela neste dia. Outra vez já grandinha, enfiou-se debaixo da saia da avó pra não apanhar; porque os irmãos todos já tinham tomado uma sova por causa de mal feito. Ela livrou-se.

E quanto mais ela crescia mais peraltice fazia. Os Colonos tinham mania de ficar em baixo do alpendre a noite contando histórias de Troncoso, cada um que contasse a sua. E em frente do sitio, aparecia um fantasma assim falavam eles! Mas eles mesmos nunca viram; e a Lilica via e avisava, lá vem o foguinho! E todos corriam porque era verdade. O fogo envolvia todos. Começava parecendo um cigarro e quando se aproximava era uma tocha grande. Ela ainda se lembra como se fosse hoje. E nos açude? Pintava e bordava, nunca vi tanta energia! No canavial tinha um moedor de cana, onde todos os dias os Colonos espremiam montão de canas fazendo garapa para as pessoas que visitavam a fazenda e fazer ração para os animais que havia lá.

Sabe o que ela fez desta vez? Enquanto o Colono saiu um pouquinho, ela aproximou-se da vasilha que juntava a garapa, e virou em cima do povo que lá estavam esperando com tanta ansiedade porque era uma gostosura. Uns falavam ou menina danada!

Ela nem ligava parecia uma espoleta. Certo dia ela sumiu na hora do almoço,

Aí ela já estava com seis anos. Ninguém a viu sair o sol, ardente pôs os chinelinhos e lá se foi.
Quem iria imaginar que ela fosse capaz de fazer aquela proeza? Então os trabalhadores tinham terminado de colher as palhas retiradas dos coqueiros, juntaram todas num lugar cortaram as partes das catembas, e foram para o almoço; a pequerrucha era magricela, as canelas de maçarico,mas tinha uma força... Carregou uma das catembas, e fez um escorregador e foi brincar no açude. Vê se pode? Mas ela pôde. Kkkkkk

Ela era medoinha mas... todos a adoravam. Nesta fazenda não tinha quem não gostasse desta espoletinha. Até os animais a compreendiam as vacas comiam perto dela como se ela fosse bezerro. E as galinhas? Faziam a festa porque ela adorava distribuir o milho pra elas, guinés, peru, pavão.etc. Sabe também uma coisa que ela gostava de fazer era montar nos cavalos e nos burros, nesta o cuidado era dobrado pois tinham medo que ela caísse. E a maioria dos cavalos e burros era bravos mesmo, nem os colonos conseguiam montá-los.

A Lilica era muito esperta, era como se fala hoje, um fenômeno. Não acham? Olha! Gente, o que acontecia naquela fazenda de coisas invisíveis era demais. O negócio é que ainda quase ninguém falava em coisas sobrenaturais. E ela via até conversava, as Amas viam ela conversando sozinha e brigava com alguém que elas não estavam vendo. Até os pescadores presenteavam porque eles perguntavam se a pescaria ia ser boa, e ela dava o palpite dela e acertava. Como se diz hoje era uma garota prodígio.

Mas, como tudo que temos, um dia vai embora, é como se fosse uma experiência em nossas vidas. A fazenda foi a falência os animais sumiram, os pais também se foram e nada mais resta desta fazenda.

Resta! Somente muitas lembranças boas. E saudade de montão!

Os manos e as manas, uns também se foram mais ainda existem alguns para contar a história.

Entra por perna de boi,
E sai por perna de pau.
O senhor falou pra mim
Pode servir o mingau...

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