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quarta-feira, 31 de agosto de 2011

VAGNER, O ZELADOR E SEUS “ CASOS" - Carmen Lucia raso





VAGNER, O ZELADOR E SEUS “ CASOS"
Carmen Lucia raso

Movimento era normal para um final de semana, visitas que chegavam e iam embora,  entregadores de pizza e fast food. Era sábado por volta das dez da noite, e na portaria estava o substituto.

Era folga do zelador Vagner, ele e Madalena estavam assistindo a um filme, que conseguiram alugar depois de semanas programadas,  deitados no sofá da sala, embaixo de um cobertor,  enquanto comiam uma tigelada de pipocas acompanhados de quentão, daqueles que se compram em supermercados. Mas no momento da cena mais intrigante, no desfecho da história, ouviu-se o barulhento interfone.  Entreolharam-se antevendo problemas:- Lá vem bomba! - disse Vagner à esposa. Pausaram o aparelho e lá foi ele atender com preguiça ao chamado.

-Oi Vagner.  Wilson!

-Fala Wilson, o que manda?

-Rapaz, sabe o garoto do 81 filho da dona Dirce? Pois então,  está todo machucado, com roupa rasgada e carregado por dois marmanjos com cara esquisita. Não tem ninguém no apartamento, o garoto nem fala, são os dois que querem entrar com ele. O que eu faço?

-Hum, acho melhor eu descer prá verificar, sabe-se lá se não querem invadir o prédio. Faz tempo que ele saiu, desde cedo, e não o vi  chegar de volta! Vai ver aprontou alguma!

-Ô Vagner, desce logo então, “ os caras tão “ ficando impacientes, dizendo que vão quebrar o portão.

-Tô indo!

Rapidamente o zelador vestiu-se, pediu ‘a mulher que esperasse por ele para acabarem de assistir ao filme. Desceu ligeiro, tanto quanto pode, pois seu apartamento ficava no último andar.

Foi até o portão sem abri-lo, ficou por instantes observando a expressão do garoto e dos outros dois indivíduos. Pensou consigo: -“ É, esses dois não tem cara boa mesmo.” E falou em voz alta: -Oh, Pedrinho, cadê sua chave? Seus pais e seus irmãos não estão em casa. O que foi que aconteceu?

Pedrinho mal podia abrir os olhos, muito menos a cabeça e o corpo se moviam,  estava todo ensanguentado, como se tivesse se ralado.

Pedrinho só queria chegar em casa e descansar, disse sussurrando.

- Tá bom, eu vou junto com vocês. Ô Wilson, fica alerta no teu rádio, que eu to com o meu, qualquer emergência, eu te aviso.

Subiram em silêncio, até que Vagner perguntou: -Cadê sua chave garoto? E o jovem respondeu:- Aqui no bolso da bermuda.

Entraram pela porta dos fundos, Vagner acendeu a luz da lavanderia, e seguiu andando atrás deles, até chegarem à sala. Pedrinho pediu aos rapazes que o pusessem no sofá em frente ‘a TV, foi  quando seus pais entraram pela porta da frente, acompanhados de seus dois irmãos mais novos. Sua mãe, num lampejo falou:- Menino, o que aconteceu? Você está machucado?

Ao mesmo tempo seu pai bradava:- O que você aprontou desta vez? Um rapaz de 17 anos, não tem juízo? Quem são estes dois ai?

O jovem sentado na beirada do sofá riu e depois gargalhou, seguido por seus amigos.

Vagner  via aquela cena sem entender o que se passava, até que foi despertado pelos gritos do homen :- Vagner, o que está acontecendo aqui?
Enquanto o zelador relatava o ocorrido, a mãe   sentada ao lado do filho, queria ligar ao seu irmão que era médico, e em seguida ligaria para a policia.

Pedrinho então levantou-se num pulo e tomando fôlego entre os próprios risos, explicou meio que com vergonha e meio que com astúcia: - Foi apenas uma brincadeira, mamãe, só queria dar um susto em vocês. Está vendo? Isto aqui não é sangue é katchup - e lambia as pontas dos dedos, depois de passa-los pelos supostos machucados. Ria muito, ele e seus amigos. Todos os outros estavam boquiabertos, surpresos com aquela brincadeira de mal gosto, e continuou: - Estes dois são meus manos da pista de skate e um de nossos camaradas que treina com a gente se machucou de verdade e eu tive a idéia de fazer esta “ pegadinha” pra ver qual ia ser a reação de vocês.

Foi ai que o pai mostrou-se nervoso e gritou:- Você sabe qual vai ser a minha reação agora, Sr. Espertinho? O senhor vai ficar de castigo durante um mês. Enquanto isso, nada de skate, nada de computador, televisão e nada celular. Seus “ manos” podem ir embora e não apareçam nunca mais,  e Sr. Vagner pode voltar para o descanso. Obrigado. E acompanhe os  “ colegas “ até a porta da rua, por favor. Pegou o filho pela orelha, levou-o até o banheiro, de onde se escutava:- Não pai, não me bate, por favor, foi só uma brincadeira”!

Vagner saiu pela porta dos fundos com os dois garotos, pedindo desculpas até pelo que não tinha feito, e lembrou-se de que Madalena estava esperando com o filme, a pipoca e o quentão que já deviam estar gelados.

- Que noite agitada! - pensou consigo mesmo - Não é fácil vida de zelador, a gente passa cada uma e o salário ,oh! É deste tamanhinho.

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