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domingo, 22 de maio de 2011

Ainda lembro ... - Dinah Ribeiro Amorim




AINDA LEMBRO...
( conto de suspense)

Dinah Ribeiro de Amorim


Lembro-me ainda de minha primeira exposição de quadros...

Foi uma noite de intensas emoções!

Fiz sucesso, agradei bastante os críticos de arte, vendi alguns quadros importantes e, conheci um rapaz pelo qual me apaixonei loucamente... Fiquei hipnotizada pelo seu olhar...

Fomos apresentados por uma amiga e ele se agradou muito dos meus quadros de crianças e gatos.

Eram também as suas paixões...

Colocou sua mão em meus cabelos e perguntou-me se gostaria de sair com ele, dar uma volta de moto, conhecer o seu local predileto, largar tudo e todos e fugir ... Para onde? Não sei!

Atraída por ele, abandonei a exposição; coloquei-me na garupa e fomos numa velocidade incrível!

Paramos num local estranho, semelhante a um castelo em ruínas, cheio de gatos, alguns miando, outros dormindo...

Ofereceu-me um “comprimidinho para relaxar” e, sem querer, fui deixando-me levar por gestos sensuais e mágicos, acontecendo o inevitável... Adormecemos!

Quando acordei, na manhã seguinte, minha cabeça girava e não sabia direito aonde estava...

Fui me lembrando, aos poucos, da loucura da noite anterior! O que me acontecera? O que eu fizera? E a minha exposição? Um sonho de tanto tempo!

O rapaz bonito havia desaparecido. Só avistei, ao longe, olhando-me por uma janela, uma velha senhora alisando um gato no colo.

O que me parecera um castelo, era um velho sobrado, descascado e feio!

Levantei-me com dificuldade, reparando que estava num bairro afastado , pelo barulho, perto de uma estrada...

Cambaleando, meio enjoada, talvez pelo comprimido da noite anterior; o que seria aquilo? Alguma droga ou psicotrópico, talvez, fui caminhando.

Apalpei o bolso do casaco e senti que o celular havia ficado. Liguei para Nanci, minha secretária, que, apavorada, perguntou-me aonde estava. Interroguei um homem que passava e ele respondeu que a estrada era a Castelo Branco, próximo a Aldeia da Serra.Dei-lhe o endereço e ela veio me buscar! Custou um pouco a encontrar-me.

Felizmente, achou-me, sentada numa mureta, descabelada, amassada, meio suja de terra e pálida como um defunto!

Logo eu, que dou tanto valor à limpeza e elegância!

Muito espantada, Nanci ajudou-me a entrar no carro e, só depois de muitas horas, perguntou-me o ocorrido...

Reparei, enquanto voltávamos, que a linda pulseira, guardada a tanto tempo, herança de minha avó, para usar em minha primeira “vernissage”, havia desaparecido.

Dar queixa do roubo? Como explicaria a minha saída com ele? Minha aventura, iniciativa própria?

Senti vergonha e preocupação ao mesmo tempo!

Que impressão teria causado a minha ausência?

Por sorte, ninguém reparou e, graças a Nanci, fiel amiga, nunca se soube de nada.

A exposição durou dois meses, com bastante elogios e grandes vendas.

Às vezes, quando fico sentada, observando meus quadros, principalmente os de gatos, lembro-me da loucura que fiz, acho que a única na vida pois, normalmente, vivo reclusa, e, sinto um arrepio pelo perigo que corri!

Ah! Esqueci-me... Recebi minha pulseira de volta, por Sedex, uns vinte dias depois, quando soube que vendera um auto-retrato para uma senhora de meia idade, acompanhada de um gato...

Muito estranho tudo isso...


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