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quinta-feira, 5 de maio de 2011

Mãe - Ana Maria Maruggi



Mãe

A mãe pode do alto de sua plenitude agir seguramente de diversas maneiras na educação dos filhos. Ela pode prometer ou desprometer, castigar ou recuar do castigo. Ela pode pedir com carinho, ordenar com severidade, ameaçar disso ou daquilo. Não importa, nada trincará sua imaculada imagem ou a removerá de sua função de mãe.

A mãe tem característica absolutamente própria que a classifica de acordo com seus métodos de atuação no momento de corrigir ou educar as crianças. Vai depender de como ela se comporta e de quais das artimanhas que Deus lhe deu, ela vai fazer uso:



Mãe do tipo frágil, de corpinho fininho e pouquinho cabelo, com voz baixinha e pausada quando precisam ganhar numa argumentação apelam pela ameaça: “Vou contar tudo para o seu pai quando ele chegar. Você vai ver só!” Note-se que ela usou o verbo “contar” em vez de conversar, além disso, acrescentou o advérbio “tudo”, dando a conotação de que há MUITA coisa errada para ser revelado ao pai. E esse “Você vai ver só!” parece uma ameaça pré-estabelecida para que a criança não teime em persistir com o que estava fazendo.

A mãe ditadora não argumenta. Ela dita as regras e exige que tudo seja seguido à risca. Num momento de impasse ela logo procura preencher cada espaço não deixando para o filho nenhuma possibilidade de argumentação: “Meu filhinho querido, não queira criar caso agora com um assunto que já foi decidido muito antes de você nascer!”. Note-se que o filho não participou da decisão citada e não há nenhuma possibilidade dessa decisão ser modificada. Pelo menos por enquanto...

A mãe chantagista não argumenta também, ela nunca se presta a exposição quando os problemas aparecem. A mãe chantagista é sempre demasiadamente carinhosa e atenciosa e não deixa ninguém à deriva Mas quando se encontra encurralada, chora. Chora e observa os filhos para que eles se compadeçam de sua dor. “Coitadinha da mamãe” Percebe-se que quando apela pelo sentimento do filho, ela normalmente consegue seus objetivos. Pelo menos por algum tempo...



A mãe protetora está sempre  onde está a prole. Atenta a tudo e a todos, ela não deixa escapar nada. Se alguém ousar afligir sua criança (não importando a idade da criança), ela desce do salto e arma o barraco. Se for preciso entra em luta corporal para defender sua cria: “Aqui não meu caro, em filho meu ninguém põe a mão! Se a criança for pequena é possível entender essa tomada de frente, mas se o filho já for adulto torna-se evidente que ela não deixou para ele nenhuma possibilidade de, ele mesmo, resolver seus problemas.

A supermãe é aquela que está em todos os lugares ao mesmo tempo. Prestativa e amorosa ela nunca se cansa e não demonstra contrariedade diante de situações embaraçosas. Normalmente é muito educada e consegue tudo o que quer dos filhos, e dos amigos também: “Já deixei sua calça no tintureiro, tirei as cópias que você vai precisar para seu trabalho da faculdade, fiz um jantar gostoso daqueles que você adora, e amanhã vou levar seu carro para consertar o estepe”. Ajuda tanto os filhos que nunca tem tempo para ela, mas isso não a incomoda, pois essa prestatividade é o que lhe agrada.


A mãe ameaçadora não conversa e não dá moleza, ela vai logo ameaçando caso não seja seguido o que estava combinado: “Não invente nenhuma balada para hoje à noite senão o bicho vai pegar aqui em casa, hein!” Ameaçar é o forte de uma mãe desse tipo, embora ela nunca tenha cumprido nenhuma ameaça. Pelos menos ainda não...

Mãe carinhosa, exageradamente carinhosa. È claro que já  viu uma dessas. Nas salas de espera dos consultórios pediátricos há sempre esse tipo de mãe. É fácil reconhecê-la, pois ela está sempre fazendo carinho nas mãozinhas das crianças, afagando os cabelinhos, massageando os dedinhos dos pés, etc. E quando os filhos crescem, ela continua incansável na arrumação dos cabelos deles, ajeitando o colarinho, a gravata. A mãe carinhosa precisa estar sempre em contato físico com a criança dizendo coisas boas e sinalizando positivismo. Enquanto for possível...

Em quase todos os casos a palavra foi a regência dessa relação, mesmo quando a relação é ditatorial. É por força da palavra que a argumentação supostamente protetora ou ditadora acontece. Sendo assim pode-se reconhecer o exagero do qual a maioria delas faz uso para tentar conseguir o que almeja sem muitas explicações ou conversas. Ela parte para o confronto imediato:

“Se você não estudar e vier com nota baixa eu te mato!”

“Come tudo senão eu faço você engolir esse prato”

“Desce daí senão eu amarro você e aí sim você nunca mais vai subir em lugar nenhum!”

“Pára de chorar senão eu te dou uns tabefes e aí sim você vai ter razão para chorar!”

“Desliga essa televisão e vai tomar banho senão eu jogo a TV pela janela!”

“Se você não se comportar na igreja, nunca mais sai de casa!”

“Cuida do seu tênis que custou muito caro, senão você vai andar de chinelo para o resto da sua vida!”

“Se eu vir você mascando essa porcaria de chiclete outra vez, faço você engolir o chiclete e todos os seus dentes!”

“Se fizer xixi na cama outra vez, vai passar a dormir no chão!”

“Nunca mais fale palavrões nesta casa, senão corto a sua língua!”

 “A próxima vez que você deixar essa torneira ligada eu dou seu cachorro para doação”

“Se não vai mesmo escovar esses dentes então vou mandar arrancar um por um”.

Calma! Calma! - É claro que tudo isso é força de expressão.  E que mãe que é mãe não tem coragem de cumprir nenhuma dessas ameaças exageradas.

Elas mudaram muito com o tempo. Algumas saíram da cozinha, outras de casa para ajudar o marido no orçamento doméstico.

Hoje em dia elas estão se cuidando, procurando se atualizar para acompanhar a evolução dos filhos. Muitas estão plugadas também com os amigos das crianças, e cobram participação de toda a família para que a educação seja dada em conjunto pelos pais, avós, tios e padrinhos, além dos professores.

Prontas para a vida. Prontas para a maternidade. Prontas para o lar. Prontas para o trabalho externo. Prontas para amar, sempre.

O ato de ser mãe é insuperável, inigualável! E o de ser filho então, nem se fala...

E para as mães, esta autora deixa o ombro amigo, a confiança, o agradecimento, e a insubstituível palavra AMOR, que não só define a entrega através deste sentimento tão puro e gratuito, como também é a somatória dos valores que formamos e tomamos em nossas vidas através de nossas mães. Parabéns para todas as mulheres, mesmo que as não têm filhos, pois são mães incondicionalmente. Parabéns às mães que estão conosco, e às mães que partiram.

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