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terça-feira, 17 de maio de 2011

JOANÓPOLIS - Suzana Lima


Suzana Lima fez uma poesia pueril para a cidade de Joanópolis que fica no Estado de São Paulo. A cidade é considerada a Terra do Lobisomen, e o Recanto das Cachoeiras. Abaixo temos um texto do professor folclorista Valter Cassalho sobre a crença do lobisomen em Joanópolis:


JOANÓPOLIS
(Suzana Cunha Lima)

Fui na terra do lobisomem.
Lá tem noite enluarada,
coelho correndo na estrada,
cachoeira pela mata,
grama verdinha no chão.

Em casa se faz o pão,
o leite vem da vaquinha,
alface, fruta fresquinha,
ali mesmo do pomar.
Passarinhos a cantar,
nas florzinhas a revoar.

Mas cansei de procurar,
nem na mata, céu e chão,
Lobisomem não vi não...

 
 
 
O PORQUÊ DO LOBISOMEM

novoDizem que, quem tem muita sorte nasce virado pra lua e Joanópolis parece ser uma destas cidades em que a lua dá muita sorte, principalmente a lua cheia, pois é nela que o lobisomem costuma aparecer. Temido no passado, o lobisomem joanopolense passou por nova metamorfose, deixou de ser amaldiçoado para dar sorte, de mau passou a brejeiro e de temido passou a ser amigo.

O lobisomem teve suas histórias aguçadas em 1983, quando a folclorista Maria do Rosário de Souza Tavares de Lima defendeu sua tese para a Escola do Folclore de São Paulo, tendo como tema o Lobisomem e como local de pesquisa nossa cidade, lançando o livro: "Lobisomem: assombração e realidade".

Em 1998 o Lobisomem voltou à tona, através do comercial sobre folclore do grupo MacDonald´s, no qual figuraram pessoas de nossa cidade. Surgiu então a LOBOMANIA, confeccionando camisetas, adesivos e eventos, nascendo aí a A.C.L. - Associação dos Criadores de Lobisomens, com o intuito de difundir este precioso mito.

turistaEste lobisomem nunca percorreu tantas cidades como agora, mas ao invés de terror, traz a proposta de um turismo sui-generis, ou seja, o turismo do imaginário.

Hoje em dia, o lobisomem pode ser considerado o carro chefe na divulgação do turismo da cidade, aproveitando o folclore e mostrando as belezas naturais que o município encerra. No mês de agosto acontecia a Trilha do Lobisomem, ocasião em que dezenas de jeepeiros percorriam a madrugada joanopolense na esperança de ver o bicho. Além disso as pessoas estão descobrindo os mistérios da lua cheia, ou seja, estão reatando com seu imaginário, buscando ouvir e relembrar as histórias de assombração e outros contos, pacientemente contados pelas pessoas mais antigas da família ou da comunidade.

A proposta do lobisomem é esta, divulgar o turismo, valorizar o folclore, relembrar os bons tempos da infância, contar um bom "causo" e se envolver nos mistérios e clarões da lua cheia.

Quanto ao lobisomem, muitos viram outros afirmam que é pura imaginação, mas na verdade seu rastro está por ai, com seus encantos, seus mistérios e sua atração irresistível ao desconhecido. Bem, enquanto a dúvida persiste o bicho corre solto...

O TURISMO DO IMAGINÁRIO

Graças ao trabalho da Associação dos Criadores de Lobisomens Joanópolis conta com o chamado "Turismo do Imaginário", alicerçado no estudo, reaproveitamento e na projeção do folclore.

Consistindo na busca do lúdico, das sensações da infância, na reconciliação com o sobrenatural, com o imaginário!

Mas o que é este TURISMO DO IMAGINÁRIO?

Costumo partir do pressuposto que os mitos sempre povoaram as mentes dos homens, desde os mais remotos tempos o homem viaja em busca de seu imaginário, em busca do encontro com o sobrenatural, com o sagrado, com as possíveis aventuras com o inesperado. Tornou-se um aventureiro, visitando locais que acreditava possuir energias diferentes, monstros, deuses e até mesmo passar por um portal mágico que o levasse a outros mundos.

Foram criados lugares sagrados de peregrinação em todos os períodos da história, decorrido milênios, o homem continua em sua viagem em busca dos seus mitos, de seus medos, de sentimentos subjetivos.

Só para se ter uma idéia, o governo da Romênia, onde situa-se a Transilvânia, pretende gastar trinta e dois milhões de dólares num dos projetos que visa intensificar a visita a cidade de Sighisoara, onde está o castelo que viveu o Conde Vlad Dracul, popularizado e distorcido como Conde Drácula. O Lago Ness na Escócia continua sendo visitado até hoje e todos sonham com uma foto do tal monstro, no Brasil Varginha no Estado de Minas Gerais, virou ponto referencial na possibilidade de se ver um extraterrestre, que podemos afirmar ser um mito moderno, São Tomé das Letras, também no mesmo Estado é amplamente visitada e pessoas juram que além dos Ets vêem gnomos e toda sorte de seres fantásticos. Alguns municípios estão apostando nos sacis, outros em seres encantados dos rios e cachoeiras, assim sendo, por que não investiríamos no lobisomem? Um mito forte, dinâmico, antigo, presente em todas as culturas e preservado no sopé da Mantiqueira.

Este é o turismo do imaginário, uma desculpa para viajar e relembrar a infância, reviver antigas fantasias, mas também buscar a aventura de estar numa cidade e poder contar depois que esteve lá, na terra assombrada por um determinado ser, mas também, em conhecer e desfrutar das belezas naturais que estes locais encerram. É o novo, o inusitado, o diferente, talvez seja isso que procuram aqueles que se aventuram por estas trilhas.

Nossa associação provou que é possível colocar os ventos do folclore a favor do turismo, mesmo que seja um mito apavorante e que não tenha uma cara tão boa ou amiga, seus traços podem ser melhorados, reinterpretados, sem perder a essência, criando uma nova força e uma nova dinâmica no local onde está inserido. Boa prova de como podemos mudar isso, são os ursos de pelúcia, os detestáveis e horríveis ratos que de repente graças a Waltt Disney viraram seres amáveis, amigos e idolatrados por jovens e adultos.

O lobisomem saído dos antigos feiticeiros, das maldições dos deuses gregos, excomungados pela intolerância cristã da Idade Média, satanizados por radicais religiosos, transformado num pobre amaldiçoado com a sina de correr a noite inteira, vira em poucos anos, o bom cãozinho. Antes todos corriam do lobisomem, hoje as pessoas correm atrás dele, acho que se ele pudesse opinar sobre tudo isso, talvez viesse a afirmar: "Eu era feliz e não sabia!" Espero que para o lobisomem não venha a valer o ensinamento de Maquiavel, onde é melhor ser temido do que amado.

Atualmente a CASA DO ARTESÃO (ao lado da Matriz) abriga a ASSOCIAÇÃO DOS CRIADORES DE LOBISOMENS bem como a CASA DO LOBISOMEM, com muitos souvenires como vinhos, pingas, biscoitos, bolos, doces, camisetas, chaveiros, bonecos do Lobisomem. Na entrada tem um boneco tamanho natural da artista plástica Regina Rodrigues a mesma que criou no ano passado as CUECAS DO LOBISOMEM (Crie o bicho solto!) e outro em pé do André Collins. Há ainda lobisomens pequenos em bisqui, resina, camisetas etc feitos por André Collins.

A novidade desde ano de 2010 foi o NENÉM LOBISOMEM ou seja, um lobisomem (boneco) bebê que tem sido o xodó da casa do Artesão.

Os lobisomens e bonecos de vários artistas espalham-se por todo o município em cachaçarias, bares, lojas de artesanato.


Professor Valter Cassalho - da Associação Brasileira de Folclore
Presidente da Associação dos Criadores de Lobisomens
( contur.joanopolis@gmail.com )
 


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