VIOLA E BURÉ
Ivonéte Miranda
Dona Rosinha, como fazia todo final de tarde, sentava em sua cadeira de balanço na varanda e ficava apreciando o Sol se esconder no meio das montanhas. Era nesta hora que o céu ficava amarelecido e o gado, devagarzinho se afastava da lagoa.
Do terraço dava para sentir o cheiro gostoso da buré que estava sendo cozido no fogão de lenha, feito de milho fresquinho colhido ali mesmo na fazenda.
Faltava pouco para chegar o pessoal e se abancar em volta da fogueira para ouvir o velho seresteiro.
A viola ansiosa, recostada na parede da varanda, já esperava por seu amo para ser dedilhada.
Dona Rosinha avistou a carroça de João vindo devagarzinho pelo estreito caminho.
Pouco a pouco os caboclos iam chegando, Mané, Tancita, Joana ...
Zeca, o serviçal da família, ascendia a fogueira, puxava os bancos para perto, arrastava a mesa de madeira maciça e então ia buscar o tacho fumegante contendo o caldo de milho.
A velha Maricota se aproximava sempre, encostava-se à mangueira e ficava vaidosa esperando receber os costumeiros mil elogios pelo seu saboroso buré.
Depois de forradas as barrigas, começava a cantoria.
O violeiro que passava aquela mansidão, aquela indolência, agora sacudia as cordas da viola e entoava canções que todos acompanhavam batendo palmas, batendo os pés e sacolejando os ombros.
Era a noite mais feliz e esperada da semana, quinta-feira, banhada pelo clarão da lua do sertão, pelo sabor da sopa de milho e pela cantoria dos sertanejos.
Todos já sabiam que quando fumegava o bule do café no fogareiro era sinal que teriam de esperar mais uma semana para viverem outra noitada.
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