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quarta-feira, 6 de abril de 2011

As mulheres que cantam sempre à meia-noite! - Dinah Ribeiro de Amorim




Lenda Urbana:

As mulheres que cantam sempre à meia-noite!
Dinah Ribeiro de Amorim


  Era Dia de Natal! Na pequena cidade do interior de São Paulo, “Capim Santo”, o povo se preparava para a Missa do Galo, na Igreja da Matriz, que seria à meia-noite, em ponto, com o sino badalando as horas, chamando todos à oração!

  Para isso, preparavam-se meses antes! Limpavam toda a Igreja, enfeitavam-na com enormes arranjos florais, retocavam as imagens, davam um colorido novo!

  O coral de mulheres, com vozes suaves e cristalinas, ensaiava várias horas por dia, músicas natalinas, dirigidas pelo maestro Inocêncio, o diretor musical da cidade.

  Era sempre um acontecimento especial, a festa natalina, mais na Igreja do que nas casas, mais social que pessoal.

  Quase que uma obrigação, conclamando os cidadãos a orar, a festejar, a cantar, homenageando o nascimento de Jesus!

  Todos faziam roupas novas, trajavam-se bem, as mulheres ficavam mais bonitas e elegantes e, os homens, compravam ternos escuros e chapéus, tendo o cuidado de tirá-los durante a missa.

  Já era quase meia-noite! O sineiro preparava-se para badalar o sino, com imponência, respeitoso na sua obrigação!
  Mas, e as mulheres do Coral? Não chegavam! Estavam muito atrasadas... Não se poderia começar a função sem elas... A música era de muita importância, nesse evento!

  Esperam,esperam, a igreja cheia, o padre na sacristia, andando de um lado a outro... O sineiro, preocupado: _Bato ou não bato?Já deu meia-noite! É melhor bater...Precisamos respeitar a hora!

  Com o barulho do sino, o padre resolve entrar no altar e iniciar a reza.Mesmo porque, o povo já estava muito impaciente: mexiam-se, reclamavam, as crianças não paravam quietas! Já corriam pela nave..

  E as mulheres do Coral? Nada! Viriam todas juntas, com o maestro, em um ônibus, atravessando a linha do trem...

  Quando a missa já estava quase terminando, muito triste, sem o canto bonito das vozes femininas, ouviu-se, ao longe, o canto maravilhoso, natalino,ensaiado pelas mulheres...

  Aos poucos, todas elas foram se chegando, ocupando seus lugares, soltando a voz, cantando suas canções! Sr. Inocêncio acompanhava-as, chegando um pouco depois!

  O povo e o padre ficaram aliviados e encantados! A Missa do Galo, nesse ano, estava salva! Nunca haviam cantado tão bem!

  Ao terminar, todos trocaram cumprimentos, desejaram Feliz Natal, agradeceram ao padre que, na porta, despedia-se, cumprimentando um por um, família por família.

  Mas, e as mulheres do Coral, aonde estavam? Queriam cumprimentá-las também e não as achavam! E o Sr. Inocêncio? Saíram assim, tão cedo? O padre também não sabia...

  Horas depois, chegou uma notícia triste e espantosa: o ônibus que trazia o coral foi atropelado por um trem desgovernado e, ninguém se salvou!

  E o Coral? Como chegou? Não se soube explicar... Uns falavam em “milagre”! Outros, em “espíritos” Muitos se benziam:”é coisa de Deus”!

  Até hoje, essa estória é comentada. Virou uma lenda de Natal: As Mulheres que cantam à meia-noite!

  Já não existe mais Missa do Galo nesse horário. O sineiro, morreu! As pessoas, daquela época, foram-se, não sem antes contar esse fato a seus filhos e netos que nasceram...

  Há quem diga na cidade que, ao passar, à meia-noite, no Dia de Natal, em frente à Igreja Matriz, ouve-se um Coral feminino com as mais lindas músicas de Natal...

                                               

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