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quarta-feira, 13 de abril de 2011

O feitiço - Daisy Daghlian




O feitiço
Daisy Daghlian

 

“Estou com mau pressentimento”... disse Duda em tom assustador. Soninha e Giulia correram para verificar o que estava acontecendo, com cuidado desembolararam um a um os enormes cobertores e, nada de Fernanda, em seu lugar um ursinho de pelúcia, desses com uma blusinha onde está escrito I love you, todo espetado com alfinetes com rosinhas vermelhas. Um bilhete todo amassado só dizia : amigas eu..., mais nada. As três, boquiabertas, não sabiam o que pensar, nem o que fazer. Assustadas voltaram para a cozinha, o leite esquecido já esfriara, a água do café secara, Giulia, automaticamente, desligou o fogão.

Vamos raciocinar, disse Soninha. Vocês viram a Fê chegando ontem à noite, estava com cara de poucos amigos e, falou que ia se deitar. Não a vimos depois disso. Nós, jantamos, vimos um filminho na TV, também fomos dormir. Eu, com a minha insônia, ouvi a porta ranger várias vezes, mas com a chuva caindo e, o barulho dos trovões, não me dei conta de que tinha algo errado acontecendo, murmurou Duda.

O telefone tocou, as três correram, Soninha atendeu e, foi ficando mais pálida, ligou o viva voz, a nona sinfonia de Beethoven, ecoou pelo apartamento. Nada foi dito. As três decidiram pedir ajuda a Renato, irmão de Fernanda, que morava ali perto. O telefone dele só dava sinal de ocupado. Giulia pegou o guarda chuva e abriu a porta, que rangeu novamente, correu até a casa do rapaz, que tomando conhecimento dos fatos resolveu chamar um amigo investigador. Quando retornaram, as moças estavam com um buquê de rosas amarelas,. nas mãos, leram o cartão, que dizia: Minha amada imortal agora me pertence. O investigador chegou e, foi examinando o local. Achou alguns indícios, sem nenhuma relevância. Achou melhor fazer um B.O. do desaparecimento da moça.

Os meses foram passando, apesar de preocupadas, retomaram a rotina. Ninguém dava notícias.

Quando a carta chegou as encontrou tomando café. Era de Fernanda. Enfim, notícias. Contou que estava casada, morando em Recife. Conhecera Murilo, numa exposição do Masp, onde ele expunha alguns quadros. Ela, encantada com as obras, quis conhecer o artista. Quando se olharam, uma atração avassaladora tomara conta dos dois. Ele era diferente, meio bruxo, a enfeitiçara com seu carisma e talento, pediu que fosse embora com ele, voltara para casa e não conseguia tira-lo da cabeça. Temerosa e ao mesmo tempo valente deixou o ursinho, representando seus pensamentos desencontrados, tentou deixar um bilhete, Mas fugiu no meio da noite, sem pensar nas conseqüências. Estava tão desvairada, quando telefonou no dia seguinte, que só conseguiu colocar a música para elas ouvirem. Estava feliz e realizada. Pedia desculpas pela atitude impensada de deixar a todos sem notícias, não podia dividir sua felicidade. Terminou com um convite para visita-los.

Encantadas, Soninha, Giulia e Duda exclamaram:
- Só a Fê para viver este louco amor.

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