BLOG NOVO: CONTOS DO ICAL


segunda-feira, 25 de abril de 2011

A novata - Daisy Daghlian



A novata
Daisy Daghlian

Abismada, registrou mais algumas fotos e ficou esperando o casal deixar o local. Ela os seguiria. Nádia, embora inteligente e esperta, era apenas uma pobre jornalista brasileira que não conhecia os costumes daquele país, podia ter se enganado, queria ter se enganado, aquela senhora poderia não ser quem ela pensava que fosse.  Com o coração acelerado e  pensamentos desencontrados, aguardou para dar o próximo passo.

Os dois se levantaram ariscos, e nesse instante do bolso do conde caiu um cartão. Ela esperou. Eles saíram de mãos dadas do café. Nadia,  imediatamente recolheu o cartão, seus  equipamentos,  e correu para a rua, sem deixar de notar o comportamento estranho da dama. Alguma coisa nela não parecia feliz. O Conde de Villabond abriu a porta do Rolls Royce  que estava estacionado à porta, para a senhora. Ela entrou, ele não. Acenaram um para o outro e partiram. O Conde seguiu a pé.

Não tinha escolha, Nadia queria saber o que estava acontecendo, então o seguiu. Examinou o cartão, tinha apenas seu nome. Ele era muito alto, tinha as pernas longas, e andava muito depressa,  a jornalista tinha quase que correr para não perdê-lo de vista. Haviam percorrido alguns quarteirões, quando ele entrou num charmoso e florido hotelzinho que ficava escondido no meio daquele bairro afastado. 

Agora era esperar. Demorou mais duas horas e meia para que algo acontecesse.

Viu sair o Conde e depois a dama,  em seguida aquele automóvel estacionou à porta e a mulher com o rosto coberto pelo mesmo véu verde água, chapéu de abas molengas que caiam ao rosto,  com a mesma capa, entrou nele e partiu.   O homem com  ar contrafeito pôs seu chapéu e ficou ali por alguns segundos. Rapidamente, Nádia parou um táxi e  seguiu o automóvel da dama. Rodaram uns quarenta e cinco minutos e, o veículo entrou por uma porta camuflada que ficava nos fundos do Palácio de Buckingham. 

Nadia não queria acreditar naquilo. Totalmente atordoada, retornou ao hotel onde estava hospedada. Jogou seus apetrechos no sofá e pulou na cama. Tinha muito em que pensar. Sua primeira impressão de quem era aquela mulher estava certa. Era ela! Pegou a câmera, analisou suas fotos, e ligou o gravador. O que Nadia não sabia era que tinha gravado a conversa do casal lá no café. Pelo que ouvira o homem estava chantageando a mulher. Ele teria descoberto que ela tinha um amante e se aproveitava disto.

Nádia, pensou em voz alta:

Se fizesse uma matéria, com as fotos, seria um furo jornalístico, por outro lado se a identidade dela fosse revelada seria um escândalo de proporções inimagináveis.

No dia seguinte,  mais descansada  pegou seu equipamento e voltou aquele café. Sentou nn mesma mesa. Em sua cabeça vários planos foram traçados, mas descartados em seguida. Tinha que investigar melhor. Resolveu se hospedar naquele hotelzinho. Encerrou sua conta e foi até o hotel onde estiveram o Conde e a dama.  O recepcionista, um inglês muito antipático, mal olhou para Nadia. Suas perguntas a respeito das acomodações, mal foram respondidas, parecia que o tal não queria que ninguém se hospedasse lá.  Algumas camareiras, circulavam pelo saguão, limpando, colocando flores nos vasos, ajeitando as cortinas, como se um hóspede importante estivesse para chegar. 

Nadia ficou andando à toa pela rua não sabendo o que fazer, nem por onde começar.  Comeu na lanchonete mais próxima, e esperou. Algum tempo depois, viu  uma das camareiras  sair para fumar. Correu até ela.  Nádia fez algumas perguntas, mas a moça  mal falava inglês. Quis saber de onde era, e para sua sorte a moça era paraguaia, finalmente, conseguiram se entender. Com muito tato perguntou sobre os hóspedes misteriosos do dia anterior. A moça não podia falar naquele assunto.  Nadia então convidou-a para jantar, que  aceitou de pronto. Encontraram-se à noite num restaurante chic no canto oeste da cidade.  Durante a refeição, Carmencita se mostrou mais falante,  contou sua vida, deu detalhes de seu trabalho no hotel.  Nádia então conseguiu convence-la a colocar uma câmera  no apartamento que  os dois supostos amantes se encontrariam.

Alguns dias depois, Carmencita telefonou para Nadia.  Tinha gravado o encontro. As duas  se encontraram no apartamento da jornalista.  Viram juntas o filme, e uma surpresa a aguardava: A lady era a mesma, mas o amante era um rico sheik da Arábia Saudita. O casal tivera um encontro quente e conturbado, os gemidos e ais de prazer ecoavam, o carinho entre ambos era imenso. Era nítido que se amavam. A mulher contou ao amante que estava sendo chantageada e assediada pelo conde.  O homem pediu que se acalmasse, ele resolveria o caso. As duas estavam atônitas. O caso tinha ultrapassado e muito todos os limites.

Na tv o noticiário da BBC  mostrava um grave acidente entre um caminhão e um Jaguar, o motorista do carro tinha teria morrido. Seu nome:
Mark Jones, o Conde de Villabond.

Nádia, automáticamente, arrumou suas malas, guardou suas novidades tecnológicas a sacola, chamou um táxi, deixou Carmencita no metrô mais próximo e, rumou para o aeroporto, embarcando no primeiro vôo para o Brasil. 

Nenhum comentário: