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sábado, 26 de outubro de 2013

ATÉ A ÁGUA DEVOLVE! - Dinah Ribeiro Amorim



ATÉ A ÁGUA DEVOLVE!
(texto usando palavras encontradas num caça-palavras)
  Dinah Ribeiro de Amorim

  “Abaciando” as roupas sujas do cesto com água espumante do sabão em pedra, feito em casa, várias mulheres iniciam um canto melodioso e triste, à beira do rio. Permanecem horas neste trabalho cansativo, esfregando, lavando, torcendo, sem lhes passar pela cabeça problemas como “efeito estufa”, construções de “hipódromos” para corridas dos cavalos da fazenda, discussões entre problemas dos países do “Mercosul”, reduções de preços de mercado, etc... Deixando isso para os homens conversarem, ainda mais com a vinda da construção de uma usina “siderúrgica”, coisa que não entendiam “baldado” muito esforço.

  Estão nessa distração diária, habitual e nem percebem quando o Jesuíno, homem meio lunático, só falando e ameaçando mulheres com a “Inquisição”, pois, para ele, toda mulher pagã deveria ser levada à fogueira. Daí seu apelido: ”Inquisição”.

  Se fossem bonitas, então, ficava eufórico, excitado, esbravejando sobre a volta da “Inquisição”. Aproxima-se de “Cisplatina”, assim chamada porque era descendente de habitantes da Província aquém do Rio da Prata, pega-a por trás e tenta jogá-la no rio, afogando-a. Aliviaria sua raiva do sexo feminino, sabe Deus, por quê! Era mesmo um “baldado”.

  As mulheres, aos gritos, rodeiam “Inquisição” e, formando um grupo fechado e unido, livram “Cisplatina” de suas mãos, e num esforço “cabal”, resolvem castigá-lo.

  “Mameluco”, conhecido “tipógrafo” da cidade, ganhador de muito dinheiro, guardado em “cacifo” fechado à chave, com vida tranquila  ausente de qualquer “caguira”, resolve dar seu passeio noturno, à beira do rio, esperando anoitecer completamente. Gosta muito de apreciar uma Lua Cheia refletida nas águas ou uma bela noite de luar.


  Naquela noite, especialmente linda, observa a Lua Cheia iluminando a água do rio, refletindo sua luz como um espelho n’água, ondulante pela brisa noturna. Percebe, com espanto, algo pesado, imóvel, inchado, sendo depositado na margem, parecendo restos de “cotonifício”. Chega mais perto e vê o corpo de “Inquisição”, morto, devolvido pelo rio, contrariado, que o expulsa também de suas águas, enraivecido de todo o mal que o homem fez.  

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