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sábado, 26 de outubro de 2013

RODANDO MACIO PARA CHEGAR AONDE QUERO! - Dinah Ribeiro Amorim



RODANDO MACIO PARA CHEGAR AONDE QUERO!
(PARA-CHOQUE DO CAMINHÃO DE TONICO)

Dinah Ribeiro de Amorim

  Tonico era um menino alegre, esperto, brincalhão e, às vezes, um pouco malandro! Se pudesse enganar alguém para conseguir alguma coisa, fazia sem dúvida. Adorava dirigir! Seu prazer era admirar caminhões e carros rodando pela estrada. Pensava: “um dia serei caminhoneiro, terei um caminhão só para mim!” No momento, contentava-se em dirigir o trator de seu pai, ajudando-o na lavoura do pequeno sítio que tinham.

  Quando cresceu, homem bonito e forte, muito mulherengo, botando olhos em cada morena bonita do lugarejo, conseguiu realizar seu sonho: tornou-se empregado de uma fábrica de tintas da região, guiando o caminhão para fazer entregas nos diversos lugares do Brasil.

  Sua vida era rodar, rodar e, namorar, deixando em cada parada uma mulher apaixonada, esperançosa, ansiosa.

  Quando retornava das viagens que fazia, reatava namoro com Rosinha, a moça fixa, escolhida pelos seus pais e companheira de infância.

  O engraçado era que sua habilidade para convencer e enganar as moças permitia que cada uma se considerasse a única e não desconfiassem da existência de outras.

  Esperavam-no voltar, saudosas, fiéis, confiando em seu jeitão alegre e extrovertido, trazendo momentos de felicidade.

  Ouvia sempre do pai: ”toma juízo, filho, casa logo com Rosinha, forma uma família, tem filhos para herdarem o sítio!’” Nem tenho a quem deixar pois você sai pelo mundo e nem avisa quando volta!”

  _ Tá certo, pai! Um dia caso e sossego. Por enquanto, vou levando a vida como gosto!”

  O tempo foi passando, as mulheres enganadas aumentando, não conseguia se desvencilhar desse vício. Qualquer olhar ou ginga diferente, sorriso bonito, ele se atraia e aproximava. Enquanto não a cativasse, não sossegava.

  Eis que um dia, quando carregava o caminhão para mais uma entrega, sentiu um olhar de uma mulher muito atraente, bonita ainda, não muito jovem, que o cobiçava, admirando seus braços fortes e porte atlético.

  Fingiu que não percebeu e continuou seu trabalho, pois a mulher estava no escritório do patrão.

  Ela, vendo que ele continuava sério, aproximou-se lentamente, puxando conversa.

  Tonico não se fez de rogado e deu trela à conversação.

  Encantou-se com ela; de todas as mulheres que tivera, fora a mais insinuante, a que mais desejara.

  Como era correspondido, iniciou um romance meio proibido, às escondidas, pois ela era casada. Só não sabia com quem!

  O romance inicial passou a ser paixão de verdade. Largou todas as namoradas de fora, até Rosinha ficou abandonada; não via a hora de chegar de suas viagens para encontrá-la. Marita era o seu nome. Verdadeira Jezebel, com todos os atrativos e seduções que um homem pode querer!

  Num desses encontros furtivos, quando ia saindo do quarto de pensão aonde se encontravam, Tonico depara com três homens fortes, armados, que já vira antes. Eram seguranças de seu patrão. Sua cabeça dá um estalo: Marita era mulher do seu patrão.

  Leva uma surra tão grande, machucam-no tanto, que fica desacordado por longo tempo.

  Quando acorda, está num leito de hospital, todo enfaixado, com dores, olhando assustado para o lado.

  Quem estava ali era Rosinha, sempre solidária e fiel, sabedora de tudo e cuidando dele.
  Quase morrera se não fosse ela a socorrê-lo a tempo.

  Envergonhado e arrependido, passa um tempão sem dirigir e ficar bom de vez. Seu coração, em frangalhos, aprende a não se meter mais com mulher alheia. Nem as outras mulheres do caminho, interessam-no mais.

  Finalmente, vê Rosinha com outros olhos, não só os da carne, mas do coração. Assim que se recupera, pede-a em casamento, formando finalmente a família que seu pai tanto queria.

  Ah! Manda mudar a frase do seu caminhão: “Vou agora com Deus, se você for do bem, pode ir comigo!”
                                                                        


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