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quinta-feira, 17 de junho de 2010

Jequitibá - Cida Bianchini


JEQUITIBÁ
Cida Bianchini





Um braço do rio avançava em direção ao caramanchão todo florido que abrigava a família nos fins de semana.

Gostosas reuniões escreveram a história, sempre com convidados novos, pois, o circulo de amizades daquela gente, era vasto, pelas inúmeras atividades cultural, social e profissional, que o casal e seus cinco filhos exerciam.

Classe média alta, sem ostentação, seguiam rigidamente as regras deixadas pelos seus ancestrais, simplicidade....

Num dia qualquer da semana, Nina, a funcionária que há anos cuidava da limpeza daquele recanto que, de tão belo, parecia um conto de fadas, surpreendeu-se,ao ver Lelo, o filho mais velho e mais amado por todos, sentado à sombra do flamboyant, com a cabeça sobre os joelhos apoiados no banco que sustentava seu corpo.

Nina, aproximou-se em silêncio, embora estivesse nervosa ao perceber o pinga-pinga das lágrimas coloridas pela dor, pois, nunca vira Lelinho chorar. Era o mais alegre de todos, parecia estar sempre de bem com a vida. Algo de muito grave deveria ter acontecido...

Abraçou-o e sussurrou ao seu ouvido: “Meu anjo, porque choras assim”.

Demorou para que as palavras fossem pronunciadas. Nina, com seu rebenque mágico, conseguiu descobrir a causa daquela dor!

Com a voz entrecortada, o jovenzinho desabafou...

Abraçados caminharam para o local do acidente que resultou na morte da ovelha branca que, talvez por excesso de amor ao vê-lo chegar, atirou-se diante do carro. Apesar da freada brusca a morte fora inevitável.

Por instantes o sol perdeu o brilho, parecia triste, o pombal esvaziou-se... As pombas foram em bando acompanhar o funeral.

Lelo e Nina, envolveram a ovelha mais linda do rebanho numa toalha branca. O cortejo seguiu em companhia das outras ovelhas, e caminharam em silêncio.

Dindinha, foi colocada em meio a uma cama de folhas verdes e flores coloridas, à sombra do Jequitibá, local em que eles passavam horas brincando numa troca mútua de carinho.

O céu chorou através da nuvem que se deslocou sobre o jazigo.

Os pássaros cantaram, o vento soprou forte...

Em passos lentos, Lelo voltou à vida. Enquanto a alegria parecia desaparecer, a certeza gritava forte:

“ A paz foi morar debaixo do Jequitibá”!


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