O menino que não brincava
Noemi de Carvalho
Um prédio classe média alta se destacava na orla marítima.
Ali morava Adriano de dez anos filho do zelador e que se isolava num apartamento dos fundos, onde sala cozinha e quarto se misturavam tirando a privacidade, sufocando desejos e vontades.
Seu passatempo era ver televisão, um aparelho velho onde as imagens se cortavam interrompendo a seqüencia das historias.
Às vezes o pai o chamava para molhar o jardim, carregar as ferramentas ou fazer outros serviços.A mãe ele acompanhava quando ela era contratada para limpar os apartamentos.
Os dias eram enfadonhos para Adriano.
O mar ele via de longe quando ia prá escola.
Quando era época de temporada ele se debruçava à janela vendo as crianças que iam chegando já provocando um tumulto natural no prédio.Elas jogavam pebolim,dominó, xadrez e brincavam de se esconder.
Muito raro o momento em que o convidavam para participar da brincadeira.
Este menino não brincava. Se embutia e se isolava tornando-se mais um ser que vivia por viver, sem sentir o cheiro do bolo da vovó, sem o carinho espontâneo do semelhante tendo um presente circunspecto com interrogações para o futuro.
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