BLOG NOVO: CONTOS DO ICAL


quinta-feira, 17 de junho de 2010

Pedido de casamento - Cida Bianchini



Pedido de casamento
Cida Bianchini



Tudo começou durante uma linha cruzada, que ao perder o foco, duas pessoas de idiomas diferentes passaram a se comunicar, em clima de paz, sem estresse como comumente acontece.

Da Itália para o Brasil, Gianino para Ana Mária. Assim nasceu o romance que durou alguns anos.

Separados por um continente, escreveram a história que ficou guardada em dois baús. A comunicação através de cartas, foi o recurso mais prático que encontraram dada a dificuldade entre os idiomas.

Foi assim que nasceu o amor e caprichosamente se instalou em corações tão semelhantes.

Giane, assim conhecido, era um homem deslumbrante. Belo como diziam as italianas.

Empresário bem sucedido, orgulho da mamma que incansávelmente o admirava.

Ana Mária, jovem bonita, corpo esbelto, seios avantajados, bem ao gosto dos italianos, vivia uma vida simples no sofrido agreste pernambucano.

Filha de agricultores conhecia como ninguém a monotonia... A cada cair de tarde se preparava para não sofrer tanto, o que intensificava o desejo de escrever e transmitir ao seu amado a paixão edificada nas bucólicas tardes naquele canto escondido do agreste.

Estudante universitária cursava o último ano da Faculdade de Agronomia.

Seus pais, apesar de analfabetos, tinham planos para o seu futuro profissional, cujo maior sonho era ampliar os negócios do pequeno sítio, para o mercado de exportação.

As cartas pareciam falar... Tinham força estranha, ao ponto de transformar seus comportamentos em risos e lágrimas, saudade e espera... Esperar até quando...

Esperança....

Tão verde quanto as folhas da bananeira para Ana Mária.

Tão vermelho, tão ardente, cor de sangue, cor do semáforo que o faz esperar em sua máquina potente, enquanto visita o cliente, para Giane...

E o tempo passou sem que ambos perdessem o sabor daquele amor!

Enfim, a chegada do grande dia estava próxima. Saborearam passo a passo o sonho do primeiro encontro.

Brescia parecia pequena para conter a euforia de Giane.

O agreste também era pequeno para acomodar a ansiedade de Ana Mária.

O avião partiu e o belo ragazzo tentava decorar as frases que escrevera num italiano abrasileirado, o pedido de casamento à principessa piu bela del mondo!

Entre as nuvens, o sonho se intensificava. Era mais forte que a morte. Era mais saboroso e doce que o próprio mel.

O ônibus também partiu da pequena cidade para o longínquo aeroporto internacional... E com ele, a bagagem do sonho de alguns anos. Coração apreensivo, esperançoso, batendo forte no peito.

A medida que a paisagem ia ficando para trás e o caminho se encurtava, o sonho crescia. Ana Mária, mais parecia uma menina indefesa. A criança que nunca saíra daquele cantinho perto do fim do mundo. Era preciso se fortalecer! Afinal seu destino estava às portas de uma grande mudança!

Diante do aeroporto, segura firme a maleta e segue meio perdida...

O burburinho do Aeroporto, entremeado ao constante barulho das aeronaves que não param de chegar, deixam Ana Mária cada vez mais ansiosa! Sem desviar o olhar do painel que atualiza a cada instante a situação dos vôos, de repente sente um calafrio...

Chegou!... Meu Deus, meu coração parece que vai explodir...

Ana Mária, Ana Mária, daqui a poucos minutos tudo será diferente... Tão diferente... Não fique insegura, afinal você esperou tanto tempo por este momento! Diz ela consigo mesma.

Com passos lentos ela segue em direção à sala de desembarque. Segura firme o bastão que sustenta a placa, escrito com letras grandes: GIANI.

A porta se abre e entre toda aquela gente, identifica a figura do seu amado, não sei se pelo porte altivo bem característico dos italianos, ou pela expressão de felicidade que, como ela, não conseguia ocultar. Certifica-se, porém, quando ele vai ao seu encontro e com sotaque puramente italiano.

“Dio que bella”...

Abraçam-se, beijam-se, não se importam com o tempo e muito menos com as pessoas que não deixam de olhar aquele encontro tão caloroso...

Giane e Ana Mária seguem vagarosamente à Capela Ecumênica.

Lá fora o sol se põe. Pela primeira vez, não vê o cair da tarde que sempre lhe trouxera angústia.

Agora, abraçada àquele homem maravilhoso, que aprendera a amá-lo mesmo sem vê-lo, e hoje tão seu...

Giane tira do bolso uma aliança de diamantes e coloca-a em seu dedo, selando o amor.

A penumbra da Capela, cortada por apenas um fio de luz, tão tênue, tão especial, parece apenas ter espaço para os dois, que se contemplam.... Se ofertam....Se descobrem...

Nenhum comentário: