SERTÃO DA INGAZEIRA
Chico OCosta
O velho Arlindo Necavento, sertanejo taciturno e de gestos faciais sérios, às vezes exibia sobrecenhos de leve humor acompanhado de um sorriso esprimido entre os dentes quase cerrados, porém de sonoridade apreciável.
Certa vez o velho estava na sala tomando café com uma visita muito especial, antes seu desafeto, agora o amigo Olavo Mendonça. Não se soube como que por falsos passos seu filho ainda pixote de quatorze anos sem querer passou entre eles. Repentinamente levou o braço à cabeça e com uma velocidade espantosa, enquanto que o jovem num instinto de defesa lançou o corpo esguio para frente, mas suas pernas finas ainda suspensas ficaram marcadas pelos nós das tiras que prendiam o chapéu-de-couro aos queixos e nuca do velho zangado, tais barbicachos funcionaram como um impiedoso rebenque.
Ambos sertanejos confabulavam alegremente e por alguns minutos foram interrompidos por um desatento rapazote, que por tal atitude aviltante envergonhou o velho pai diante da nobre visita. Novamente retomaram a conversa de negócios, pois era de grande interesse do velho Arlindo adquirir uma fazenda que cobiçava há muito tempo, pois gostaria de tê-la fazendo parte de suas propriedades.
Depois que a visita foi embora o velho Arlindo ainda raivoso chamou sua mulher Adalgisa e orientou-a dizendo: o nome eu dou, mas cabe a Manoelito honrá-lo, inclusive por carregar o meu respeitado sobrenome.
O jovem ainda trêmulo chorava enquanto a criada Chiquinha passava-lhes salmoura nos vergões deixados em suas delgadas pernas que mais pareciam dois cambitos.
Embora Manoelito soubesse da severa educação familiar imposta, não soube explicar para a sua mãe como foi causar tamanho aborrecimento ao seu pai diante da visita.
Horas depois o velho puxou Manoelito pelo braço e o colocou entre as suas pernas e acariciando com seu queixo de áspera barba por fazer, mimou o filho, que alegre e aliviado pediu-lhes desculpas e assim continuaram a vida de cobranças severas, mas com a certeza de que seu pai tinha um coração cheio de amor e bem querer familiar.
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