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segunda-feira, 1 de julho de 2013

CONSIDERAÇÕES DE UMA BOLSA USADA, À SUA DONA - Dinah Ribeiro de Amorim


CONSIDERAÇÕES DE UMA BOLSA USADA, À SUA DONA:
Dinah Ribeiro de Amorim

  “Sou uma bolsa velha, usada, esquecida no fundo do armário. Tomo pó e observo outras bolsas, lindas, de grifes, com vários adereços, ocupando lugares que já foram meus! Em uso. Estou tão esquecida que nem me deram ainda aos pobres, falta de lembrança ou alguma recordação, talvez. Já fui bonita, exibida, muito companheira de ti, minha dona, portando coisas particulares, necessárias à tua vida. Naquele tempo, combinavas-me com tudo: sapatos, vestidos, casacos, servindo para completar qualquer  toillette. Era jovem, bonita, elegante. Não esse traste velho, considerado hoje! Caí de moda, envelheci com o tempo ou mudou meu estilo de ser. Sinto falta de tua companhia! Da tua alegria, dos teus amores! Dos lugares que frequentávamos juntas, mesmo ficando jogada num canto. Sabia que seria procurada no final. Levada para casa pois transportava o principal: dinheiro, chaves, documentos... Era a última a ser lembrada mas a mais importante. Hoje, aqui, jogada, esquecida por ti, recordo com emoção o nosso passado! Tuas festas, namoricos, empregos, vivências que só eu sei. Sinto não poder falar, contar às outras que estão à minha frente. Conversar com elas, perguntar como mudaste, com quem estás agora, o que fazes. Gostaria de te ver mais vezes, não só quando, distraidamente, pegas qualquer bolsa, mais moderna, à minha frente! Hoje são tantas! Vermelhas, amarelas, verdes, brancas, marrons, melhoraste de vida! Antigamente, era só eu, escura, preta, para todas as horas e ocasiões! Acho mesmo falta de ti, do que fizemos juntas! Realizas uma limpeza neste armário! Dá-me para alguém! Que eu continue servindo, prestando auxílio a outrem, mais necessitado que tu, minha amiga e primeira dona, sempre!”


                                                     Tua bolsa velha.

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