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segunda-feira, 1 de julho de 2013

Meu querido Capa Preta - Suzana da Cunha Lima


Meu querido Capa Preta
Suzana da Cunha Lima

Estou aqui num jardim esplêndido, coberto de pequenas margaridas sorridentes, que se desprendem  de seus caules à menor brisa. Eu me distraio com sua dança, parecem nuvens amarelinhas travessas, brincando ao sol. Sentei-me para apreciar melhor o belo dia, quando, de repente, pensei em você.  Sempre me lembro de você quando sento num banco de uma praça florida.

Procurei-o em minha sacola de jardinagem e achei ali sua cartinha linda. Céus, você não veio comigo, então? Onde estaria? Olhei lá para a terra e vi você caído ao chão.  Meu coração, que aqui bate tão alegre, se contorceu de tristeza. Quem era aquela mulher que lhe pegou e achou que o Minotauro era um livro antigo de Monteiro Lobato? Antigo? Que ignorância, livro não tem idade, não sabem?

Ah, meu amigo querido, livros têm asas e pernas sim.  Livros vão para onde querem e sempre respondem quando os chamam.  Eles moram em nossas almas, às vezes quietamente, às vezes assanhados, querendo logo serem lidos, para que a gente ria ou chore, se divirta ou se espante, mas que jamais sejam ignorados ou largados em alguma prateleira empoeirada.

Foi assim contigo, meu amado Capa Preta. Nossa relação começou quando eu tinha oito anos e nunca mais nos deixamos.  Eu estava sempre mudando sua capa, sempre gostei de vê-lo arrumado e bonito. Quanta coisa você me ensinou... Os mitos, deuses e heróis gregos, toda a bela e misteriosa mitologia grega, os grandes estadistas, a enorme cultura grega que herdamos... E tudo na brincadeira, que Monteiro Lobato era o mestre de ensinar brincando.

Um livro é um amigo que não nos esquece, não nos julga e nem dá conselhos que não pedimos. São nossos companheiros mais fiéis, que nunca deixam de atender ao nosso chamado, seja de dia ou de noite. Não pedem nada, querem apenas que os tratemos com cuidado, amor e interesse, pois em suas páginas  tudo pode acontecer.  Eles nos levam à lua e às estrelas, ao fundo dos mares, às montanhas geladas, aos combates medievais, aos suspiros das donzelas, à musica dos seresteiros. Nos livros somos heróis, deuses, fadas, magos...

É só arrumar um lugarzinho confortável, esquecer do mundo , abrir suas páginas e se deixa levar. É mágica pura, enlevo, conforto, prazer.

Mas que faço eu deixando você ai embaixo nas mãos desta mulher que nunca lhe amou?

Suba já e vamos continuar nossa história do ponto onde a deixamos.

Sua Princesa



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