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segunda-feira, 1 de julho de 2013

A DESPEDIDA - Paulo Rogério Pires de Miranda

 



  
A DESPEDIDA
Paulo Rogério Pires de Miranda

Foi numa manhã de verão, o sol forte ardia sobre aquela praia do litoral norte onde tu estavas esparramado sobre uma cadeira de praia e lia o seu jornal preferido.

De quando em quando olhavas ao teu redor conferindo o movimento da praia. Aos poucos iam chegando os veranistas. Crianças, jovens, adultos, idosos, todos com expressão de alegria e prazer; praia descontrai, causa euforia.

Barracas iam se armando à tua volta, esteiras eram deitadas na areia, cadeiras assentadas, crianças corriam, brincavam e lindas mulheres desfilavam lânguidas diante dos teus irrequietos olhos.
Vendedores de cerveja, refrigerantes, sorvetes, sanduíches, circulavam entre os veranistas completando o cenário festivo daquele dia de verão.

Foi num momento desses que passei diante de ti. Entre muitos outros, do meu gênero, lá estava eu a tiracolo de um vendedor.

Eu circulava por aqui por acolá, naquela praia coalhada de pessoas, já com pouco espaço livre em suas areias.

Numa dessas idas e vindas o meu vendedor parou diante de ti a apresentou-me, colocou-me em tuas mãos afirmando que eu era o último daquele tipo que ele tinha à venda e que eu me encaixava perfeitamente ao teu perfil.

Lembro-me bem. Pegaste-me em tuas mãos, examinaste-me cuidadosamente, olhaste-me por todos os ângulos demoradamente e por fim compraste-me. Começamos neste momento uma convivência que se estendeu por todos estes longos últimos 12 anos. Agora é chegado o momento de nos separamos.  Estou velho e desgastado, deselegante e com má aparência, é o meu fim.

Tinha que acontecer, um dia, essa dolorosa separação.

Fui teu companheiro de muitas ocasiões, tais como: festas, passeios; até em velórios estive contigo, fomos de fato bons amigos.  

Porém, como temos belas e saudosas lembranças a tua decisão foi de não me descartar ao lixo, mas sim cuidadosamente acomodar-me em uma caixa de papelão forrada com papel de seda e colocar-me no alto do teu armário.

Eu sou aquele que orgulhosamente me ostentastes ao alto da tua cabeça por onde ias e agora jaz numa caixa como uma grata lembrança. Eu sou o teu velho chapéu de carandá.


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