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sexta-feira, 19 de julho de 2013

Meu primeiro vestibular - Suzana da Cunha Lima


Meu primeiro vestibular
Suzana da Cunha Lima

Já tinha meus filhos crescidos, a vida organizada e o casamento entrara naquele planalto da rotina e falta de surpresas, tudo embrulhado no manto da segurança e estabilidade.

Resolvi entrar na Faculdade. Sempre havia gostado de estudar e minha vida escolar fora interrompida pelo casamento e maternidade e sua natural exigência de doação e devoção, também embalados no manto da responsabilidade, que é muito maior e mais sufocante do que precisa ser. Mas isso eu aprendi muito depois e não foi na Faculdade.

Como eu tinha feito Supletivo de Segundo Grau, achei que tinha que escolher uma Faculdade fácil de entrar, assim, optei pelo Serviço Social.

Resolvi só falar em casa, caso eu passasse.  Foi difícil guardar segredo porque eu mesma me transformara.  De dona de casa apática para uma mulher vibrante, repleta de expectativas. Eu  assobiava e cantava como se tivesse acertado na sorte grande, aguardando animada a hora do exame.

Quando chegou o dia do exame estava  eu estava tão ansiosa como qualquer adolescente, sentindo-me assim mesmo, uma jovenzinha diante da possibilidade de estudar para ter uma carreira. Ser uma profissional!  Só isso já havia colorido meu rosto de alegria e expectativas. E assim foi. Amei estar no meio daqueles jovens ansiosos também, como eu e dos comentários sobre a prova: Foi difícil? Acertou aquela?

Aguardei o resultado e a classificação tentando baixar o volume do coração que batia feito doido.

Naquele dia de manhã cedo fui para a banca dos jornais. Peguei o jornal onde havia os resultados e comecei a procurar meu nome na letra S.  Passou Sulamita, Suelen e Sueli  e daí pulou para Talita e por ai foi. Não passei!! Foi como um soco no meu estômago e sem querer  comecei a chorar, ali sentada no banco da praça.

Um motorista de táxi se aproximou de mim e perguntou; O que foi menina? O que achou aí para valer tanto choro?

- Não foi o que eu achei e sim o que não encontrei – disse aos soluços. E expliquei para ele a história do vestibular. – Deixe-ver isso, disse ele. Às vezes a ansiedade é tanta que a gente não enxerga direito.  O curso é Serviço Social? Da FMU? Eu dizia que sim com a cabeça. - E o período é diurno ou noturno? O que você está vendo é o noturno.

Céus! Eu pedi para o diurno! As esperanças vieram fortes, será meu Deus, que eu passei?


Vimos juntos a relação do diurno e ali estava meu nome bonitinho, com todos os erres e efes, registro correto e tudo o mais.  Abracei-me com Sr. João, rindo e chorando ao mesmo tempo, ele contou para os outros taxistas e fomos todos juntos comemorar na padaria, com café, minha vitória, que passou a ser deles também.  Não me lembro de ter sentido tanta emoção na vida.

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