BLOG NOVO: CONTOS DO ICAL


sexta-feira, 20 de setembro de 2013

A aparição - Jany Patricio

                                   

 A aparição
Jany Patricio


         Naquela bucólica cidade as pessoas levavam suas vidas tranquilas e rotineiras.

         Os transeuntes seguiam seus caminhos em busca de seus afazeres. Eram mulheres que logo cedo iam à venda comprar o pão quentinho e cheiroso, que levavam em alvíssimas sacolas de algodão singelamente bordadas. Crianças fardadas que em algazarra seguiam para a escola.

         O carro de boi que passava monótono pela avenida principal, carregado frutas, legumes e raízes para a feira. Trabalhadores do comércio, lavradores, pedintes, cada qual com sua história de vida.

         Mas de repente um fato alardeou os moradores.

         Começou numa sexta-feira, por volta das sete horas, quando os raios de sol já se despediam da cidade, numa das vielas que dava acesso à rua principal, por onde também passava um riacho.

         As luzes dos candeeiros já bruxuleavam dentro das casas.

         Um homem que tranquilamente voltava do seu trabalho, notou que um vulto branco o seguia. Olhou para trás e não viu nada. Atravessou a pequena ponte sobre o riacho,  mas continuava com a sensação estranha de estar sendo seguido.
         Quando olhou para trás novamente, viu uma mulher com as feições cadavéricas, vestido branco amarrotado e manchado, cabelos desgrenhados e olhar sofrido, estendendo os braços em sua direção.

         Não teve dúvidas, disparou a correr, atravessou a viela, e virou a esquina chegando sem fôlego à sua casa. Abriu correndo a porta e fechou todos os trincos.

         Estava com os olhos arregalados e tremia das cabeças aos pés, assustando sua esposa que preparava o jantar. Enfim, sentou-se para respirar, e contou-lhe o ocorrido, afirmando que nunca mais passaria naquela esquina.

         Na semana seguinte sucedeu-se o fato, na sexta-feira, mesmo horário e agora com um casal que voltava da igreja. O vestido branco, feições cadavéricas e olhar assustador.
         A história se espalhou pela cidade, deixando as pessoas apavoradas. Ninguém mais se atrevia a passar naquele local e horário na sexta-feira.

         Conta a lenda, que um dia, um corajoso lavrador que não acreditava em assombrações, resolveu encarar a aparição.

         Manteve-se à espreita, esperando a tal mulher de branco.

         E não ficou desapontado. Virando a esquina apareceu a criatura. Andava devagar com os braços estendidos e o vestido arrastando pelo chão, emitindo dolorosos lamentos.

         O homem levantou-se e intrépido e avançou em sua direção.

         Mas para sua surpresa, o ser, percebendo a sua aproximação, desatou a correr.          Fugiu, em carreira desabalada, seguida pelo lavrador que somente a perdeu de vista depois que ela alcançou a entrada do cemitério.
          

        





         

Nenhum comentário: