BLOG NOVO: CONTOS DO ICAL


segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Névoa da manhã - Jany Patricio


Névoa da manhã
Jany Patricio


Uma certa manhã, raios de sol atrevidos ultrapassavam a esvoaçante cortina da sala, transformando em riscos as pupilas dos verdes olhos de Bianca.

         Lá fora, pingos de orvalho cintilavam sobre as pétalas dos lírios, enquanto a névoa acariciava a relva.

         Bianca saiu da almofada, escorregou do sofá se alongou gostosamente, como fazem os felinos ao despertar. Passou as unhas sobre o veludo deixando marcas reluzentes no tecido.

         Caminhava elegante e manhosa, quando Bob surgiu estabanado pela porta lavanderia, atravessando a sala como um foguete. Ela ficou com os pelos eriçados e as unhas fincadas no tapete felpudo, enquanto ele estancou em frente a porta de entrada, latindo sem parar.

         Jorge apareceu de chinelos e roupão esfregando os olhos e bocejando.

         - Bob, quieto! – disse.

         O cachorro latia, latia, e corria em direção à porta.

         Apareceu Cláudia, de camisola e penhoar de seda, se espreguiçando, com ar de aborrecida.

         - O que acontece aqui? Não se pode dormir até mais tarde num sábado?

         - Não sei, o Bob não para de latir! E fica olhando para a porta! Eu vou lá fora ver se tem alguma coisa.

         Atravessou o jardim, acariciado pelo frescor da manhã e os perfumes das flores, que pareciam lhe sorrir. Abriu o portão e arregalou os olhos.

         - Querida, venha ver, logo!

         - O que foi, meu Deus!?

         Calçou os chinelos e saiu, recebendo o impacto do sol que furava a névoa.

         Ao chegar ao portão, levou um susto. Lágrimas escorreram dos seus olhos. 

Abraçou Jorge e juntos agacharam para segurar a caixa que trazia um bebê, que chorava, chorava, envolvido em uma manta.


         Levaram o bebê para dentro. Estavam emocionados e por momentos ficaram sem saber o que fazer. Olharam-se, e sentiram que algo estaria mudando em suas vidas a partir daquele dia.

Nenhum comentário: