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sexta-feira, 20 de setembro de 2013

PÉ NO ACELERADOR, CABEÇA NO FREIO - Maria Luiza C. Malina

 

PÉ NO ACELERADOR, CABEÇA NO FREIO
Maria Luiza C. Malina

Sempre falo com certeza,
    Que esta frase bem certeira
        “Fé em Deus e pé na tábua”
            É a mesma da cabeça no freio.
                 E que freio!

“Segue em frente caminhoneiro, sem se atrasar por inteiro. O caminho corriqueiro, vai comendo por inteiro. Só não confundas meu amigo, as curvas da estrada, com as curvas da amada. A donzela bem faceira, na janela te espera, com cheiro da mangabeira, da cor da jabuticabeira”.

OK. São com as brincadeiras deste tipo, que ensino aos filhos a se cuidarem quando recebem a chave de seu primeiro carro. As gargalhadas são muito boas, acompanhadas da felicidade e do -“vamos testar o carro!” -  “mas é claro!” E este claro sai mais claro e forte do que a própria resistência. Neste passeio, sem começo e sem fim, sem qualquer comentário, seguem adiante, até esqueço de que é, marinheiro de primeira viagem – Ôpa! – digo - motorista de primeira viagem. E lá vamos nós.

Resolvi ir a Ubatuba  com meus dois filhos. A lei não permite que antes de um ano, o novato dirija em estradas, apenas na cidade.

OK. Dia lindo de praia, estávamos no jardim, olho pela lateral da casa e vejo um rapaz entrando no jardim deixando o portão aberto. Fui até ele, perguntando que queria, e ele me diz que quer ir à praia. – OK retome seu caminho pela estrada e aproveite e feche o portão que você deixou aberto, aqui é uma propriedade particular.

- Não vou. Vou passar por aqui – responde duro dando-me um empurrão.  Fiquei furiosa com a falta de educação e a invasão.

- Vai sim, respondi. Ele saiu correndo e eu, atrás dele, feito uma maluca nos trinta metros de jardim. Queria puxá-lo pela sunga, quando estava a um dedo de abocanhá-lo (acho que foi o anjo da guarda) tropecei no nada, como se uma grande pedra lá estivesse. Cai no chão sentindo uma dor tremenda. Ao me levantar vi que estava com o braço pendurado igual a uma peça no açougue.

Segurei o braço cambaleando, e pedi ao meu filho que ligasse para a polícia, pois estávamos sozinhos e, com frequência a casa era assaltada, imaginei que fosse um deles, a nos sondar.

A polícia chegou, olhou e reolhou para os surfistas e turistas. Todos sabiam quem era, mas o silêncio era a cumplicidade, só lembrava a cor da sunga, em meio a tantas outras iguais.

Com um travesseiro apoiando o braço pedi ajuda ao policial. Não poderia se ausentar, pois era o único no posto policial.

Com fé em Deus e “cabeça no freio” – disse ao meu filho, você dirige!

Preocupado, por pegar a estrada ida e volta, uma vez que, a casa fica a 25 km da cidade mais próxima, aceita o desafio. Que prova dos nove, meu Deus! Pensava. Não podia acelerar, por causa da trepidação dos buracos no asfalto ou das lombadas, andar a 20 por, era o máximo que podia. Ele foi um herói, resistiu às buzinas dos carros, aos xingamentos e aos gritos de dor uma mãe.

Rapidamente fui atendida, num puxão mágico do ortopedista contando uma piada, meu ombro estava no lugar, imobilizado.

Richard voltou dirigindo, pedindo aos céus que um guarda rodoviário o parasse. Estava com vontade de mostrar a sua carteira de habilitação junto a repulsa frente à atitude da falta de socorro, e repetia: - E se você estivesse sozinha na casa!

Estava orgulhoso. Foram seus primeiros 50 quilômetros de estrada e, animadíssimo, que ainda teríamos que retornar a São Paulo pela Serra dos Tamoios.

Nosso herói, com apenas dois dias de carta, foi condecorado com o “pé no acelerador e cabeça no freio”. Mostrou a nós e si próprio, a força de uma determinação, tornando-se um excelente motorista.



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