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domingo, 29 de setembro de 2013

GARDÊNIA - Maria Luiza de Camargo Malina


GARDÊNIA                                                                 
Maria Luiza de Camargo Malina

Gardênia! Ah! Gardênia! Belos sonhos povoastes, com teu perfume envolvente!
Tenho muitas saudades de você, crescemos juntos, e você aprendia tudo muito rápido. Gardênia prá cá, Gardênia pra lá. Nome bem feminino, como você.

Pois é, ela era pequena quando a conheci. Logo me afeiçoei e com ela fiquei. Conversava, e ela me entendia levantando a cabeça. Saia para a escola e alegre ela me esperava.  Muito esperta, aprendeu que minha cama era o melhor lugar para dormir, vivia ao meu redor, sem incomodar. Na época da faculdade, se enroscava nas pernas, esperando o momento de ir dormir. Minha inspiração e companheira para os mirabólicos inventos para a conquista do diploma.

Ensinava-lhe que ela deveria ir dormir no próprio seu espaço – Gardênia para o aquário! E ela me obedecia rastejando-se devagar, até que aprendeu. Não importunava as temerosas visitas, que a olhavam desconfiada e ela a eles.

O tempo passa junto com Gardênia. Namorava uma bela moça com quem me casei. Acostumara-se a ela, não sei se pelo perfume, pela voz melodiosa ou pelo movimento do andar, mas o fato é que ela sabia quando Anita chegava à casa após o trabalho. Ela a recebia de uma forma que demonstrava sua felicidade, enroscando-se junto às pernas de Anita. As minhas peludas, não queria.

Às vezes dormia conosco. Esta aproximação com Anita nos distanciava a cada dia, afeiçoara-se a ela. Eu não tinha mais espaço, pois quando chegava do trabalho e me aproximava de Anita ela se colocava, entre nós, em posição de bote, com a cabeça ereta, há uns 5 cm do chão. Anita falava, e ela obedecia. Havia trocado de dono. Eu também a troquei, afinal Anita é Anita!

Com o passar do tempo, percebemos que o ciúme se acentuava e Anita estava grávida. Temerosos, optamos por levá-la à faculdade de veterinária, onde o tio era diretor e, que com certeza, ninguém faria mal algum ela. O aquário fora transferido e ela constantemente recebia  nossas visitas, percebíamos que ela estava feliz.
Não sei precisar quantos anos ela deveria ter, mas eu, já estou bem idoso, relembrando o passado ousado e promissor dos inventos que me renderam o devido reconhecimento profissional.


Gardênia terminou seus dias, com toda dignidade, na Faculdade de Veterinária de Goiânia, onde era a modelo mais bela ao desfilar seu andar em caracol. 

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