BLOG NOVO: CONTOS DO ICAL


segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Névoa da manhã - Jany Patricio


Névoa da manhã
Jany Patricio


Uma certa manhã, raios de sol atrevidos ultrapassavam a esvoaçante cortina da sala, transformando em riscos as pupilas dos verdes olhos de Bianca.

         Lá fora, pingos de orvalho cintilavam sobre as pétalas dos lírios, enquanto a névoa acariciava a relva.

         Bianca saiu da almofada, escorregou do sofá se alongou gostosamente, como fazem os felinos ao despertar. Passou as unhas sobre o veludo deixando marcas reluzentes no tecido.

         Caminhava elegante e manhosa, quando Bob surgiu estabanado pela porta lavanderia, atravessando a sala como um foguete. Ela ficou com os pelos eriçados e as unhas fincadas no tapete felpudo, enquanto ele estancou em frente a porta de entrada, latindo sem parar.

         Jorge apareceu de chinelos e roupão esfregando os olhos e bocejando.

         - Bob, quieto! – disse.

         O cachorro latia, latia, e corria em direção à porta.

         Apareceu Cláudia, de camisola e penhoar de seda, se espreguiçando, com ar de aborrecida.

         - O que acontece aqui? Não se pode dormir até mais tarde num sábado?

         - Não sei, o Bob não para de latir! E fica olhando para a porta! Eu vou lá fora ver se tem alguma coisa.

         Atravessou o jardim, acariciado pelo frescor da manhã e os perfumes das flores, que pareciam lhe sorrir. Abriu o portão e arregalou os olhos.

         - Querida, venha ver, logo!

         - O que foi, meu Deus!?

         Calçou os chinelos e saiu, recebendo o impacto do sol que furava a névoa.

         Ao chegar ao portão, levou um susto. Lágrimas escorreram dos seus olhos. 

Abraçou Jorge e juntos agacharam para segurar a caixa que trazia um bebê, que chorava, chorava, envolvido em uma manta.


         Levaram o bebê para dentro. Estavam emocionados e por momentos ficaram sem saber o que fazer. Olharam-se, e sentiram que algo estaria mudando em suas vidas a partir daquele dia.

domingo, 29 de setembro de 2013

ROMPIMENTO! - Dinah Ribeiro de Amorim


ROMPIMENTO!
Dinah Ribeiro de Amorim

  Noite quente de novembro, prenunciando forte verão! Marita não dorme. Excesso de calor, preocupação e problemas afugentam o sono, normalmente, tão tranqüilo.
  Teria muito trabalho no dia seguinte! Necessita de sono, relaxamento, calma.

  Calma, como, se não consegue esquecer! Rompimento tão brusco e violento com Roberto, deixando-a alerta.

  Briga, ciúmes infundados, levando-os a interromper um relacionamento de três anos. Não seria fácil viver sem ele! Hábitos, maneiras de falar, brincadeiras, comportamentos, sentimentos em relação a ela. Mesmo ciumento demais, às vezes, preferia tê-lo por perto a se afastar completamente.

  Já estava habituada a ele. Amava-o, não conseguiria pensar em outra pessoa, enfrentar novos temperamentos, difíceis ou não.

Saudade, tristeza, mágoa, solidão, tudo isso sentia agora, passando Deus sabe quando!

  De repente, quase adormecendo, o telefone toca.

  Abre os olhos assustada. Quem poderia ser àquela hora! Atenderia ou não!

  Sonolenta, pega o fone ao lado da cabeceira e diz: “Alô!”

  É Roberto, também sem sono, aflito, querendo saber dela.

  Emocionada, com voz titubeante, responde-lhe com saudade: “Feliz em ouvir sua voz!”

  Marcam um encontro e irão tentar resolverem novamente seus problemas. Quem sabe, um recomeço...

  Aliviada, Marita desliga o telefone, fecha os olhos finalmente e adormece feliz!


NOVAS FÉRIAS, NOVAS DESCOBERTAS! - Dinah Ribeiro de Amorim


NOVAS FÉRIAS, NOVAS DESCOBERTAS!
  Dinah Ribeiro de Amorim

    Sylvio, um menino de nove anos, muito ligado ao pai, vai para o sítio com a mãe, durante umas férias em que seu pai precisou viajar a negócios.

  Sentia-se meio inseguro só na companhia da mãe, embora gostasse muito dela.
  O pai, para ele, representava força, proteção, heroísmo, segurança. A mãe, docilidade, amor, fragilidade, beleza, necessitando de proteção de ambos.

  Aquele sítio alugado, desconhecido, não lhe dava alegria mas, amedrontamento. Era muito isolado, sem ninguém por perto,  com barulhos estranhos vindos da mata virgem.

  Quando chega a noite, deitado numa cama estreita e dura, ouve o ressonar cansado de sua mãe no quarto ao lado, não conseguindo dormir.

  Se acontecesse alguma coisa, que fariam os dois naquela região, nem é bom pensar!

  De repente, um barulho forte o assusta. Parece alguém batendo na porta!
  Levanta rápido, acorda sua mãe, que se espanta ao vê-lo: “Que foi, filho? Não consegue dormir?”

  _ Tem gente querendo entrar aqui, mãe, responde tremendo.

  Ela, como um raio, o que o espanta, pega uma espingarda velha do armário e vai em direção à porta, mandando-o ficar em seu quarto.

  Desobedecendo, Sylvio fica à espreita, atrás da porta, observando o que acontece.
  Sua mãe não aparenta tanta fragilidade, como sempre. Ao contrário, coragem e força como o pai.

  Ela abre a porta devagar, sem barulho, deparando com um velho bêbado encostado nela, acompanhado de seu cachorro. Interrogado, responde, também assustado, que só queria dormir um pouco, não sabia que havia gente ali. Mirando sua arma em direção a ele, vai levantando e foge para o mato, com medo de ser morto.

  Fechando bem portas e janelas, a mãe, com bastante firmeza no olhar, dirige-se ao quarto do filho, permanecendo com ele até adormecer.


  Sylvio, sossegado e mais calmo, adormece tranqüilo, percebendo, pela primeira vez que, com sua mãe, também está protegido!

MATURIDADE- Ilka Andrade

 
MATURIDADE
Ilka Andrade

Estava só num café quando uma jovem senhora pediu licença para sentar-se a minha mesa. Respondi que seria um prazer, “fique a vontade”. Literalmente ela sentiu-se a vontade. Tirou seu casaco de crochê  e notei que vestia uma blusa azul turquesa de alça e saia branca. Olhou para mim e disse  “Eu mudei muito, não tenho mais condescendência com o tédio, inquilino indesejável , por isso estou aqui.

 Sou viúva há 17 anos, mas hoje não tenho medo e nem vergonha  de ainda desejar. Sem cerimonia disse “Quero uma primeira vez, outra vez, um beijo em alguém que mal conheço. Uma primeira caminhada, uma primeira estreia em algo que nunca fiz. Quero seguir me libertando da virgindade que carrego. Quero ter sensações inéditas até o fim dos meus dias. Quero ventilação e não morrer sufocada. Menos obrigações em ser a melhor mãe, do mundo a melhor qualquer coisa! Gostaria de reconciliar com meus defeitos e fraquezas, arejar minha biografia, deixar que vazem as algemas de ideias minhas que não são muito abençoadas. Gostaria de conversar com estranhos, me divertir fazendo coisas que nunca imaginei. Conectar-me, menos refém de reuniões familiares, mais tempo livre, mais abraços. Ai ela se levantou, se despediu e agradeceu a atenção jogou beijos para mim  e foi cantando ... Viver e não ter vergonha de ser feliz!!

Não foi uma conversa  porque ela não deu oportunidade para eu opinar, mesmo assim agradeço pois aprendi muito com o seu monologo. Foi um desabafo  com muita inteligência e maturidade! Vivendo e aprendendo!!!


           Vida Vida Obrigado!!


GARDÊNIA - Maria Luiza de Camargo Malina


GARDÊNIA                                                                 
Maria Luiza de Camargo Malina

Gardênia! Ah! Gardênia! Belos sonhos povoastes, com teu perfume envolvente!
Tenho muitas saudades de você, crescemos juntos, e você aprendia tudo muito rápido. Gardênia prá cá, Gardênia pra lá. Nome bem feminino, como você.

Pois é, ela era pequena quando a conheci. Logo me afeiçoei e com ela fiquei. Conversava, e ela me entendia levantando a cabeça. Saia para a escola e alegre ela me esperava.  Muito esperta, aprendeu que minha cama era o melhor lugar para dormir, vivia ao meu redor, sem incomodar. Na época da faculdade, se enroscava nas pernas, esperando o momento de ir dormir. Minha inspiração e companheira para os mirabólicos inventos para a conquista do diploma.

Ensinava-lhe que ela deveria ir dormir no próprio seu espaço – Gardênia para o aquário! E ela me obedecia rastejando-se devagar, até que aprendeu. Não importunava as temerosas visitas, que a olhavam desconfiada e ela a eles.

O tempo passa junto com Gardênia. Namorava uma bela moça com quem me casei. Acostumara-se a ela, não sei se pelo perfume, pela voz melodiosa ou pelo movimento do andar, mas o fato é que ela sabia quando Anita chegava à casa após o trabalho. Ela a recebia de uma forma que demonstrava sua felicidade, enroscando-se junto às pernas de Anita. As minhas peludas, não queria.

Às vezes dormia conosco. Esta aproximação com Anita nos distanciava a cada dia, afeiçoara-se a ela. Eu não tinha mais espaço, pois quando chegava do trabalho e me aproximava de Anita ela se colocava, entre nós, em posição de bote, com a cabeça ereta, há uns 5 cm do chão. Anita falava, e ela obedecia. Havia trocado de dono. Eu também a troquei, afinal Anita é Anita!

Com o passar do tempo, percebemos que o ciúme se acentuava e Anita estava grávida. Temerosos, optamos por levá-la à faculdade de veterinária, onde o tio era diretor e, que com certeza, ninguém faria mal algum ela. O aquário fora transferido e ela constantemente recebia  nossas visitas, percebíamos que ela estava feliz.
Não sei precisar quantos anos ela deveria ter, mas eu, já estou bem idoso, relembrando o passado ousado e promissor dos inventos que me renderam o devido reconhecimento profissional.


Gardênia terminou seus dias, com toda dignidade, na Faculdade de Veterinária de Goiânia, onde era a modelo mais bela ao desfilar seu andar em caracol. 

sábado, 28 de setembro de 2013

VIDA NOVA - Hirtis Lazarin


VIDA NOVA
Hirtis Lazarin

Depois de um dia exageradamente quente, caem lá fora os primeiros pingos de chuva. Um ventinho gostoso balança a cortina de tecido fino, invade a sala e acaricia meu rosto.

Fecho os olhos e o livro que leio.

Uma sensação preguiçosa instala-se em mim. Consome-se o tempo de um jeito prazeroso.

 No silêncio aconchegante, ouço apenas o tilintar da colherinha de prata que se movimenta dentro do copo de suco; bocejo várias vezes e caio em sono profundo.

 Acordo sobressaltada com o toque do telefone.  O bem-estar do momento é maior que a vontade de falar com alguém.

Não é Gustavo, meu companheiro.  Ele viajou pro Rio de Janeiro a serviço da Empresa e já nos falamos diversas vezes naquele dia.    

Ignoro os toques.

 Olho pro relógio grande na parede e os ponteiros marcam duas horas da manhã.  Não pode ser... Ponho os óculos... Enxerguei certo.

 Arrependo-me de não ter atendido ao chamado.  A esta hora, alguém só ligaria em casos emergenciais.

Não desgrudo os olhos do aparelho. Roo as unhas torcendo  pra ele tocar novamente.

Ele toca...Pego o telefone estabanadamente.  Titubeio...  Estou com medo!  Meu "alô" sai engasgado.  Queria e não queria ouvir a voz de quem estava do outro lado da linha.

Uma voz feminina, rouca e sensual profere uma ladainha, um amontoado de palavras, pra mim desconexas.  Só atento ao ouvir o nome de Gustavo.

 Meu coração descompassa, a vista some, sinto uma vertigem.  Desmorono.

O tempo passa. Aos pouquinhos vou retomando os sentidos, vejo-me estatelada no carpete, com o fio do telefone enrolado no meu corpo e os óculos atirados longe, com lentes trincadas.  O baque foi forte.

O turbilhão de palavras que ouvi roda na minha cabeça qual vinil em rotação errada.

Vou me recompondo, as palavras ouvidas vão adquirindo forma, organizam-se em frases conexas e a mensagem se completa.  Bombástica!

Ando pela casa feito barata tonta, sento, balbucio ofensas, grito palavrões.  Abro uma garrafa de vinho, bebo a primeira taça de uma vez só, mais outra e mais outra.

Ligo o computador;  no "Google" encontro o telefone do Copacabana Palace, no Rio.  Ligo na recepção e ouço a confirmação: "o casal Gustavo e Lucimara estão sim hospedados neste hotel".

Viagem de negócios?  E foram tantas durante aquele ano...  Meu Deus, Gustavo sempre se mostrou tão companheiro, carinhoso e apaixonado...Nunca percebi nada diferente.

Minha impulsividade fala alto.  Tenho que tomar uma decisão agora.  Não vou esperar sua volta daqui a sete dias.

Respiro fundo...Tomo o vinho que resta na garrafa.

A decisão vem.  Fico ansiosa e agitada... de felicidade.  Faço minhas malas em segundos, com a mesma euforia de uma adolescente que se desata das amarras dos pais enérgicos e autoritários.

Faço apenas duas ligações e, pouco tempo depois, já estava voando para Nova York.  Lá vive Roberto, o homem que me quer muito.  E eu nunca tivera coragem de deixar Gustavo, o marido bom, compreensivo e que muito me apoiou nos estudos e trabalho.

Na mesa da sala, debaixo do retrato nosso rasgado ao meio, apenas um bilhetinho de "ADEUS".

   

A Mamãe cuidadosa - Jorge da Paixão



A Mamãe cuidadosa
Jorge da Paixão

A Formiga Lulu, precisa chegar cedo em casa, para levar alimentos para suas duas filhinhas, as lindas formiguinhas: Vivi e Veve.

O transito na 23 de Maio estava muito agitado e ela precisava atravessar para o outro lado. Ela carregava uma folha de eucalipto muito grande nas costas que pesava muito e ela não conseguia atravessar o farol.


Já estava escurecendo e começou a chover, foi quando apareceu de repente um besouro dourado chamado Zuza, que lhe  ofereceu gentilmente uma carona, e lhe transportou em suas asas para o outro lado da avenida, que finalmente ela chegou em seu buraco ao lado do Interplanetário no Parque do Ibirapuera.

É CHEGADA A HORA - Carmen Lúcia Raso



É CHEGADA A HORA
Carmen Lúcia Raso

A moça trabalha intensamente, pois precisa terminar a encomenda

O tempo é curto

Ela fica nervosa

O celular toca, e toca

Ela toma uma atitude

Dani, moça batalhadora que recém terminou seu curso de pós-graduação em Gourmet e  quer muito trabalhar e se aprimorar na França.

-Quem sabe consiga fazer uma importante carreira como chefe de cozinha! - dizia sempre a si mesma.

Trabalha num restaurante contemporâneo (aquele que serve só um pouco em vários pratos e super decorado), faz extra num buffet para residências e ainda atende clientes particulares.

O tempo é curto, mas aos 27 anos já tem bastante experiência e sabe muito bem o que quer para si.

Tem uma encomenda para o dia seguinte. Onde trabalha pagam-lhe pouco e as obrigações são muitas. Pedidos e pedidos.

 Daniela fica nervosa, pois a finalização dos pratos requer sua atenção e habilidade.

O celular não para. Toca e toca sem parar e sua paciência se esgota. Toma uma atitude,  corre até o banheiro e atende a insistente ligação.

Do outro lado alguém lhe diz em francês que seu currículo fora analisado e que a vaga que ela queria no restaurante em Paris está lhe esperando.
Tem apenas 7 dias para  ocupar o seu cargo.


A garota chora. Soluça de alegria.  Tira o avental e o lenço  que cobre seus cabelos negros, e corre para casa. Tem malas para arrumar  e  documentos para organizar.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Esse cara sou eu! - Ilka Andrade

 
Esse cara sou eu!
Ilka Andrade


Gostaria de ser do sexo oposto. Másculo.  E meu nome seria Eduardo.

Homem forte! Atencioso, galanteador, com boa memória para lembrar as datas importantes, e seria romântico.  Mesmo ciente de que o sexo hoje é mais procurado pelas mulheres para queimar  calorias, pela melhoria da pele e o humor. Todos nós sabemos que coração vazio não ajuda na hora de subir na balança .

Não seria o cara 10, pois detesto a perfeição. Permitiria meus erros pois a   chave da vida  é que dos erros vêm as soluções mais sabias. Os desacertos despertam nossos movimentos e nos humanizam aproximando uns aos   outros.

          Seria também um exímio dançarino: Dança, balança, canta e encanta!

Eu Eduardo, deixaria os corações chagados de desejos, latejando, batendo
e restrugindo!

 Na dança, murmúrios nos ouvidos, dois pra cá, dois pra lá, retire o   torturante bandaid do calcanhar! Conquistaria a mais linda dançarina.

            Vamos queridos!! Gozemos a vida!!!
             Este cara sou Eu!!!


segunda-feira, 23 de setembro de 2013

O ANJO DA TUCA - M.Luiza de Camargo Malina


O ANJO DA TUCA
M.Luiza de Camargo Malina

Com a mãozinha esquerda na cintura e o dedo em riste, Nicky conta muito séria:

— Olhe Vovó querida, hoje eu fiquei triste, porque meu Anjo da Guarda não cuidou bem da minha cachorra. Agora, eu pedi pro anjinho da Tuca. Eu falei assim: - Será que quando a gente sair de casa você pode olhar o que acontece aqui?

No sábado, fui na aula de sapateado, e a vizinha telefonou para minha mãe dizendo que a Tuca latia muito.

Olhe só anjinho o que aconteceu. Tocaram a campainha da casa dela avisando que estava saindo muito sangue pelo nosso portão, se ela podia olhar em cima do muro para ver o que estava acontecendo, ela achava que a gente viajou para a Aldeia e que a Tuca devia estar com sede e fome, mas a Tuca não parava de latir. Era feio! Ela achava que a Tuca estava pegou um ladrão, porque tinha muito, mas muito sangue.

Sabe o que aconteceu? Ela machucou a unha da pata de tanto pular. Não sei por que, acho que você deve saber.  A unha da pata saiu todinha, quase que ela acaba com todo o sangue. A veterinária disse que nunca viu uma coisa assim.

A garagem ficou muito suja, parecia que o coelho da páscoa veio aqui em casa enfeitar o chão com tinta vermelha nas patinhas.

Agora eu falo assim: “Anjo da Tuca, você cuida dela quando a gente sair? É que o meu Anjo vai junto comigo e vai ficar muito ocupado”. Mamãe me falou isso!


AS TRÊS MARIAS - M.Luiza de Camargo Malina


AS TRÊS MARIAS
M.Luiza de Camargo Malina

As duas Marias estavam conversando depois de uma tarde quente de piquenique infantil, cheio de bolinhos e afins:

 Sem querer querendo, foi culpa minha - diz Rachel.

Não! A culpa foi minha, porque fui quem inventei - diz Helena.

 Então vamos contar a verdade a Luiza, diz Rachel - remexendo nos cabelos.

 Tá doida! Vamos ver o que vai acontecer primeiro, quem mandou você tomar todo o guaraná, não sobrou para ela!!! - diz Helena franzindo as sobrancelhas.

 Tá bom! vai! Não vamos nunquinha contar que a gente fez xixi no copo e misturou com açúcar. Ela bebeu e nem notou nadica de nada -  diz Rachel.

Até pediu mais! Mas a gente não tinha mais vontade de fazer xixi! - Diz Helena triunfalmente selando com cruzes seus dedos ensegredados nos XIz das gargalhadas.



O FRIO DA FELICIDADE - M. Luiza Camargo Malina



O FRIO DA FELICIDADE
M. Luiza Camargo Malina

As asas, de uma leveza de pluma, comandam o andar da fada sem asas num devagar paradeiro, acompanhado do medo da alegria do primeiro encontro, enroscado na garganta magra do comprido pescoço enfeitado pelo gogó.

“Miss Firulina”, desengonçada na adolescência de mulher, voa sorrindo pelas ruas empoeiradas da esperança, deixando seu rastro profundo de estradeira, que ainda não aprendeu a pisotear em cima da malícia.

O calor do rubror amorangado de suas faces, ao ser acariciada pelas mãos geladas do encontro fortuito, passa desapercebido.

Prefere continuar na curiosidade, do não saber do tal do sentir frio em seu calor, de mulher a desabrochar em gotas de amor.

O frio arrepiador de menina mulher, num breve toque de mãos, voa alto, brincando com as nuvens, num saltitar de letras, formado o nome do primeiro amor escondido, que só aparece quando as gotinhas despencam do céu cansado de tanto procurar a dona desse amor, que chora pelo amor que lá deixou e esqueceu de lá, ir buscar.

- Você ainda se lembra de mim ?


Nossas escritoras...algumas delas.

Registros durante encontro na Oficina

Jany Patricio



Dinah Ribeiro Amorim

Ilka Andrade



Eliana Dau Pelloni


Carmen Lúcia Raso


Com Ricardo Augusto e Paulo Rogério








sábado, 21 de setembro de 2013

VONTADE DE SER MELHOR! - Dinah Ribeiro de Amorim



VONTADE DE SER MELHOR!
Dinah Ribeiro de Amorim

  Era uma vez, como em toda história, era uma vez... uma mulher passada em anos, solitária mas não triste, pobre mas não carente, perseguida e atingida mas não infeliz. Pelo contrário, ainda conseguia ver as belezas da vida, reconhecer seus valores, sorrir diante do bem, do belo, do sensível!

  Os sofrimentos e as angústias do passado não conseguiram modificar o seu coração alegre e solidário.

  Quanto mais envelhecia, mais aumentava seu prazer e vontade de fazer o bem! Tinha sonhos... Gostaria de possuir poderes. Transformar o mundo.

  Praticava atividades sadias, dava satisfação ao próximo, a si mesma, aos seus.

  Mais aumentavam os anos, mais pesado o corpo ficava! Mais leve a mente, os sentimentos, as emoções.

 Ao ouvir notícias tristes, fatos que sempre ocorreram no mundo, compadecia-se e transformava-os em orações, pedindo ao Deus que acreditava que aumentasse a sua fé. Desse-lhe técnicas para auxiliar a modificar o mal que sempre atormenta as pessoas.

  Talvez fosse uma senhora especial, diferente, ou mais uma sonhadora e iludida, imaginando conseguir modificar ambições e tragédias que acontecem o tempo todo.

  Com o passar dos anos, seu espírito modificou-se. Tornou-se mais corajosa, menos sensível, enérgica diante dos erros que presenciava, modificando comportamentos, às vezes, com um simples olhar! Não precisava usar força nem palavras ferinas, era Deus transformando-a, atendendo seu pedido feito em oração. Não a queria muito boazinha nem muito alegre, mas forte para lidar com os problemas do mundo.

  Suas mãos também se modificaram. Colocava-as sobre pessoas sofredoras e transformava doenças, aliviando dores.

  Talvez tivesse colocado nela um pouco do seu espírito divino, tornando-a mais uma representante dele na Terra.

  Talvez algumas pessoas consigam...


Visita ao cair da tarde - Jany Patricio


Visita ao cair da tarde
Jany Patricio

O dia estava ensolarado, enquanto o coche seguia vagarosamente para a Quinta da Boa Vista. O mar assistia impassível ao trajeto das respeitáveis damas e nuvens peroladas passeavam pelo azul celeste envolvendo as montanhas.

         As duas senhoras usavam vestidos de corte imperial, inspirados nas túnicas greco-romanas: cintura alta, com mangas curtas e suavemente bufantes. Vestimentas leves, se comparadas à moda extravagante do antigo regime, quando as mulheres viviam aprisionadas por vestidos exageradamente apertados na cintura, saias rodadas e perucas enormes.

         Apesar do desconforto, devido às irregularidades do caminho e ao calor, Angelina e Aurora conversavam descontraidamente, enquanto abanavam seus leques e apreciavam a deslumbrante vista da baía de Guanabara. Estavam acompanhadas de suas criadas que permaneciam em silêncio respeitoso.

         As irmãs, filhas de nobres que chegaram ao país com a transferência da corte portuguesa para o Brasil, eram aguardadas por D. Leopoldina, que no momento estava como regente do Brasil, enquanto D. Pedro I viajava para São Paulo para tratar de assuntos políticos.

         Nuances de laranja, amarelo e vermelho tingiam o céu, quando o palácio imperial surgiu amparado por imponentes e verdejantes montanhas.

         Foram recebidas com gentileza pela anfitriã que apresentou-lhes os seus aposentos para a estadia durante o final de semana. Após um pequeno descanso encaminharam-se para a sala de jantar onde, foram servidos salmão, feijão verde, entre outros pratos, um bom vinho, e como sobremesas quindins e frutas.

        Durante o jantar conversaram sobre amenidades, tais como: costureiras francesas, joalherias, leques, chapéus, mobiliário, espelhos, cabeleireiros da corte.

        Aqueles momentos trouxeram um pouco de descanso para as preocupações de D. Leopoldina, que não eram poucas devido a pressão da coroa portuguesa para o final da Regência e a volta de D. Pedro I para Portugal e a ameaça de uma explosão revolucionária que foi amenizada com sua decisão de permanecer no Brasil

        — Obrigada, minhas amigas, pela vossa visita. - Disse a anfitriã.

        — Foi um jantar delicioso. Mas diga-me: como vão os acontecimentos? Perguntou Angelina.

        — Preocupantes, minha amiga. A coroa pressiona pela volta de D. Pedro, como deveis saber pelo noticiário na corte. 

        — Senti a ausência dele no jantar. - Disse Aurora, um pouco embaraçada.

        — Neste momento ele está em viagem, para tentar acalmar uma rebelião contra José Bonifácio em São Paulo.

        — E o que achas que pode acontecer?

        — É um momento de decisão: o pomo está maduro, ou colhe-se ou ele apodrece.

        Recolheram-se após a conversa, ficando a expectativa que em dias teve resposta, pela notícia da declaração da Independência do Brasil por D. Pedro I, às margens do Ipiranga.