PIETÁ
(Suzana da Cunha Lima)
Meu Pai, aqui estou em Tua casa, para dar o meu testemunho da grandeza de Teu amor.
Cheguei destroçada, a revolta comendo meus ossos, porque tinha acabado de enterrar o meu filhinho, tão inocente ainda, nem sabia o que era a maldade do mundo.
Muito praguejei contra Ti, pois apesar de todas minhas orações e sacrifícios, parecia que eras surdo aos meus apelos.
Dei-te as costas e fui buscar em outras paragens o que não havia encontrado em Ti.
Ah, meu Pai, , sabes bem que louca jornada empreendi, meus pés pisando outros caminhos, se afastando cada vez mais de tua senda. Fui vítima de tantos charlatões e embusteiros, que sugaram meu desespero, e me mantiveram presa ao tênue fio de uma incerta promessa, de uma esperança vã que jamais se concretizou.
Até que um dia cheguei em casa, exausta, com meu pequenino nos braços, envolto numa manta azul, cor de Tua santa mãe, meu Pai, e pareceu-me que ele olhava pra mim docemente, um riso lindo que só as crianças têm. E me disse gentilmente, como se fosse gente grande:
- Mami, eu vou ter que ir agora. A Senhora de azul veio me buscar. Mas você vai ficar guardada aqui, no meu coração, para sempre. – e apontou para o peito – e eu no teu, está bem? E sua mãozinha encostou no meu seio. Agora você precisa descansar, mami.
E eu abracei desesperada aquele corpinho que tinha saído de mim e a quem eu daria a própria vida, se pudesse. Minhas lágrimas molhavam o manto azul que o cobria, porém uma estranha compreensão inundou minha mente: O que sente e pensa uma mãe nesta hora?
Hoje eu sei, porque enquanto seus olhinhos se fechavam, uma Paz imensa, há tempo esquecida, tomou conta de mim.
E embora a dor fosse intensa, veio acompanhada de uma enorme compreensão: meu filho tinha terminado sua missão aqui na terra e eu ia começar a minha, consolando as mães que perderam seus filhos.
Como estou fazendo agora, nesta assembléia. Porque passei por isso tudo e só encontrei alívio nos braços de nosso Pai, que nunca falha. Amém.
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