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sábado, 2 de março de 2013

A LINGUA INCENDEIA O BOSQUE! - Dinah Ribeiro Amorim




A LINGUA INCENDEIA O BOSQUE!
Dinah Ribeiro de Amorim

  Certos “ditos populares” que levam pessoas à crenças, não condizem com a veracidade dos fatos, na maioria das vezes.

  “Voz do povo é a voz de Deus!” “A mentira tem pernas curtas!” “Aonde há fumaça há fogo!” “A verdade sempre aparece!”

  De todos eles, o que concordo é: “A verdade sempre aparece!, embora leve muito tempo. Nem sempre a fumaça traz fogo, a não ser que seja causado pelo próprio mentiroso. As pernas de uma mentira podem ser longas demais!

  Passamos momentos constrangedores e angustiosos por causa da murmuração, dor de cotovelo de alguém.

  É isso com muitas Marias e Joãos, pessoas sinceras, honestas, responsáveis como cidadãs e como gente.

  Levantam calúnias sobre modo de vida, honra, posição ocupada, desrespeito a méritos conquistados, dinheiro adquirido honestamente, etc...
  Ninguém sabe o que vai pela cabeça do homem, quando quer atingir alguém, achando justificativas pelos seus erros e levantamentos de calúnias em relação a outrem.

  Parto do princípio, quando ouço alguma “fofoca”, ouvir os dois lados e, quando não é possível, finjo que não escutei. Concordo ou discordo se me pedem opinião mas sempre procuro ir a fundo nas questões, nunca tiro conclusões precipitadas. Se falam mal de alguém, o buraco é sempre mais fundo. Algum motivo deve haver por trás disso. E nem sempre condiz com a afirmação. Há sempre uma mentira disfarçada!

  Pode acontecer de uma mentira atrapalhar tanto a vida de uma pessoa que esse mal modifica muito sua personalidade, deixando-a transtornada, enraivecida, vingativa e, muitas vezes, má.

  Isso aconteceu com uma jovem que conheci: Amália, bonita, boa,  de cultura e postura social adequada para sua idade. Dava-se bem com todos. Alegre, amante da vida, comunicativa, dócil, ajudava pessoas sem distinção de raça, religião ou cor.

  Como era muito atraente, agradava aos homens de sua cidade, atraindo também ciúmes e raiva de algumas mulheres inseguras.

  Não tinha sorte no amor. Respeitava quem gostava dela mas queria um “grande amor”, uma pessoa que ela também amasse muito, o que estava difícil de encontrar.

  Enquanto esperava esse “príncipe encantado”, romântica que era, descartou um bom partido, amado e desejado por muitas moças.

  Pobre Amália, foi o seu fim.

  Como ele tinha amigos poderosos e bastante dinheiro,  estragou a vida da jovem.
  Espalhou boatos terríveis sobre sua reputação, impedindo-a de freqüentar lugares públicos aonde era discriminada, destruindo sua imagem até em lojas e supermercados que freqüentava. Recebia sinais obscenos, gracejos, linguagens ferinas. Se andava sozinha nas ruas, eram carros que a acompanhavam, buzinando, piscando luzes, etc... numa provocação. Começou a sentir medo de andar só.

  Até a igreja que freqüentava e a conhecia tão bem, começou a duvidar do seu comportamento. Não a tratavam mais como antes. Só algumas amigas fiéis.

  Amália era inteligente demais e, embora chocada e decepcionada com o comportamento dos outros, agüentou firme, pedindo a Deus que lhe desse técnicas, saídas, pois estava ficando realmente deprimida, sem amigos, com raiva, vontade de vingança e esclarecimento da verdade.

  Sabia que , no fundo, a causa de tanta mentira só poderia vir de alguém inconformado e vingativo com sua recusa. Uma só pessoa ou um grupo de pessoas é capaz de inflamar uma cidade inteira.

  Trancou-se em casa, queixou-se à família; achavam que estava doente, precisando de internação ou tratamento.

  Terminou por mudar de lugar. Ir para bem longe. Começar sua vida novamente. Foi ser professora, escritora, redatora de um jornal, enfim, mostrar sua verdadeira personalidade e destruir as mentiras inventadas e as perseguições sofridas.

  Sua técnica deu certo. Auxiliada por pessoas colocadas por Deus em seu caminho,  de pensamento mais esclarecedor e amadurecido que outras, conseguiu melhorar seu destino, voltando quase a ser a Amália de antigamente, embora seu instinto de defesa e a antiga inocência da vida tivessem desaparecido.

  Nesse caso, a mentira não teve pernas curtas, pelo contrário, foram longas demais, quase levando ao desespero mas, como também a verdade sempre aparece, embora demore, houve quem acreditasse nela, trazendo-a de volta à sua realidade.

  Encontrou em Hélio, mais tarde, a felicidade e o companheirismo que precisava e, a opinião dos outros, ficou em segundo plano, página virada em sua vida, deixando-os curtir sua maledicência até quando Deus permitir.

  Uma mentira destrói mesmo a vida de uma pessoa que, se não houver coragem, muita fibra e fé em Deus, até que tudo se esclareça, pode levar à loucura, depressão e até morte. Ficar como “o diabo gosta”, citando novo dito popular!

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