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sexta-feira, 22 de março de 2013

Um garoto esperto! - Dinah Ribeiro de Amorim




UM GAROTO ESPERTO!
Dinah Ribeiro de Amorim

  Mário era um garoto muito esperto, malandro, educado no morro da Rocinha, perto dos maiores bandidos e também dos melhores e ricos hotéis.

  Não tinha pais e vivia com uma tia velha que o educara como pode, dó em deixá-lo sozinho.

  Não teve escola nem nenhum tipo de educação, fazendo alguns bicos nas praias, vendedor de picolés, ajudando e levando alguns trocados.

  Era bonitinho, saudável, crescido para a idade, passando muitas vezes por maior.

  Sempre que podia, auxiliava alguma madame rica nos supermercados ou orientava alguma gringa em como chegar a determinados lugares no Rio de Janeiro.

  Para isso, treinava algumas palavras em língua estrangeira como: “Good morning”, “How do you do?” “Where you going to day?”, etc...”How much to pay?” era o que mais sabia.

  Certo dia, ao ajudar uma estrangeira, sua carteira cheia de dólares caiu no chão e ela não viu. Sentiu-se tentado pela primeira vez e a roubou.

  Saiu logo após e correu para o barraco em que morava, escondendo a carteira num buraco entre os tijolos.

  Não apareceu mais no lugar e soube que a madame dera queixa na polícia, mas não soube como descrevê-lo direito.

  A polícia, diante de tantos roubos feitos por meninos no Rio e sem nenhuma pista de como achá-lo, não ligou muito ao caso.

  Passado uns dias de sumiço das praias, Mário reapareceu, tomando cuidado em não mexer no dinheiro roubado nem ficar no mesmo local.

  Quando achou que estava tudo esquecido, voltou à casa para contar o dinheiro e começar a usá-lo.

  Qual não foi sua surpresa! A carteira não estava mais lá! Espantado, procurou em tudo, vasculhou todos os buracos e nada! Nem sombra do dinheiro!

  Olhou sua tia e percebeu um leve sorriso. Perguntou-lhe se havia visto alguma coisa diferente no barraco?

  Ela disse que sim. Uma carteira vazia, jogada no chão, que acabara no lixo.

Mário, louco da vida, querendo bater na tia, disse que lá havia um monte de dinheiro. O lixeiro deveria ter ficado rico ou quem a encontrara.

  Sua tia deu de ombros, avisou-lhe que não deveria ter ficado com o dinheiro dos outros, que eram pobres, seriam sempre pobres, mas honestos. Nada que ele fizesse errado daria certo porque ela vivia orando pela vida dos dois e se tivesse que haver alguma melhora, seria de maneira honesta, de trabalho honrado.

  Sentia que morreria logo. Não pudera lhe dar nenhuma instrução, mas deixaria com ele essa sabedoria de vida: “O crime não compensa” “Todo trabalho honesto merece ser pago!” “Nada como descansar a cabeça no travesseiro e dormir” “É a maior bênção que podemos ter!” “Não há dinheiro no mundo que pague isto!”

  A Tia de Mário faleceu logo, e ele, influenciado por amigos e pela lembrança dela, sumiu de lá, nunca mais voltando. Logo que pode, arrumou trabalho numa construção e não esqueceu o único ensinamento que recebeu, transmitindo, mais tarde, aos filhos.

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