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segunda-feira, 25 de março de 2013

Liberdade a qualquer custo - Patricia Iasz





Liberdade a qualquer custo
Patricia Iasz

Era manhã quando o jornal fora pego sobre o tapete na porta de entrada da casa. A notícia em letras garrafais chamava atenção Envolvia a foto da página num caso de conflito.

Ela artista famosa. Ele advogado renomado. Casados há anos e com uma família de três filhos, já crescidos. O drama revelara-se pelas diferenças no estilo de vida pessoal de cada um. Ela, por ser conhecida num universo de extrema exposição. Ele, discreto, num universo que caminha pelos bastidores das condutas.

Num dia de estresse, desabafando com uma amiga jornalista, a atriz começou a falar sobre as dificuldades que sua vida impunha. O marido vivia lhe cobrando modos de falar, agir, se comportar em público por causa de sua profissão. Isso a fazia se sentir submissa, inferior, controlada... Incompleta nas ações do dia a dia. Era comum esta situação levá-la a pensar que algum dia pudesse se deparar com o pior....

Enfim este dia chegou!

Sem permissão, a amiga jornalista publicara o desabafo num jornal renomado.
Um escândalo!

A jornalista talvez quisesse ajudar, mas também poderia ter agido movida por interesses escusos. Nada importa agora. A família fora exposta numa situação de comentários e fofocas. Insinuações injustas para quem sempre buscou viver a descrição.

O marido, frustrado, decepcionado e com raiva do acontecimento, saiu de casa. Disse não querer mais a convivência por se sentir traído.

Foi aí que ela se deu conta que tudo se tornara pesado, da noite para o dia. A fama parecia ter multiplicado por 3 sua força, só que de maneira nociva. 
         
A atriz, que desejara ser tão livre, começou a se deparar com os fardos desta tal “liberdade”. Talvez tenha conseguido atingir este objetivo no espaço que envolvia sua casa, mas enfrentou o peso que esta sociedade causava com seus anseios de reavaliações e  retaliações. Percebeu que a sociedade também era capaz de submeter, impedir o expressar, oprimir, de lhe impor o pior... . Descobriu que há outras formas de deixar de ser livre. Notou o quanto fora submissa e desrespeitada pela amiga que publicara seu desabafo no jornal. A sensação que a levou a se queixar do marido apenas mudara de endereço. Se arrependeu ... .

Semanas mais tarde, após  terem aquietado um pouco os rumores sociais, ela reencontrara o marido num cafeteria  à tarde. Se olharam em silencio num  gesto comum dos que são cúmplices e íntimos. Desta aproximação o sinal de perdão e retomada da situação. Voltaram abraçados pro lar.


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