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sábado, 24 de maio de 2014

ANJO DE BARRO - Cida Bianchini


ANJO DE BARRO
Cida Bianchini


O hotel fazenda era tudo de bom. A paisagem reproduzida nas fotos, verdadeiro cartão postal. Verde, muito verde, contrastando com o azul do céu entre o passa-passa das nuvens a se multiplicarem no verão. Até a chuva exibia fantasticamente as gotas brilhantes nas espiadelas do sol.

Lago azul, praia de faz de conta, barro branco, arvores centenárias, completavam o cenário que circundava o hotel, alicerçado na simplicidade da gente modesta do interior.

As férias de Bibi eram passadas nesse recanto, paradisíaco, testemunha de uma linda história de amor, vivida entre o humano e o divino.  

Tudo aconteceu quando a pequena tinha seis anos. E foi lá debaixo da mangueira gigante, carregadinha de mangas, recanto cobiçado a quem tentava fugir do sol, para gozar a frescura de uma sombra aconchegante, agora abrigava as fantasias de Bibi.    

Bianca, a garotinha que conhecera nas férias passadas, dessa vez, viajara para o exterior. Bibi ao sentir-se sozinha dedicou-se a contemplação. Parecia entrar em êxtase, dada a curiosidade em entender a beleza do arco-íris. Sete cores começando nas águas da lagoa e terminando atrás da serra. 

Minha avó contou-me que os anjos têm as cores do arco-íris e, que eles falam. É só ter paciência, só falam quando querem. Ela disse que eles são invisíveis, mas às vezes se descuidam e acabam sendo vistos pelos seres humanos. Eles até falam com a gente em viva voz, recordava ela.

O desejo de falar com anjo, crescia sem parar. Tal era a ingenuidade da criança, que fez um pedido ao arco-íris.

- Arco-íris colorido, leva-me até o céu e mostra-me o meu anjo de guarda. Vovó disse que ele existe e que está sempre cuidando de mim. Naquele instante o arco-íris explodiu suas cores no espaço. Um facho de luz clareou a sombra da mangueira e Bibi foi levada ao céu numa cestinha de flores. Difícil foi conter a emoção ao se deparar com tanta beleza. Milhares de anjos louvavam a Deus em cantos angelicais dançando no espaço entre flores coloridas. Um deles aproximou-se, estendeu-lhe um bastão feito de luz e ao toca-lo ela transfigurou-se; agora também era anjo. Sentiu no coração uma paz incalculável.

Ganhou um par de asas e voou de mãos dadas com seu anjinho de guarda. Viu perplexa a grandeza do céu. O guardião mostrou-lhe o filme de sua vida. Bibi ficou feliz ao vê-lo sempre presente, tanto nos momentos alegres quanto aos tristes. Até no seu último aniversário, lá estava ele cantando e batendo palmas.

Depois de mostrar-lhe a beleza de ser anjo, colocou-a no topo do arco-íris e ela deslizou abraçada às sete cores, e, transbordando de alegria retornou a terra.

De volta ao hotel, surpreendeu-se ao ver sobre o aparador um anjo de barro branco, a imagem e semelhança do seu guardião.

Ao toca-lo, iluminou-se, e saiu voando. Uma chuva de pétalas de rosas caiu sobre os hospedes. O hotel perfumou-se... Poetizou-se... E, Bibi silenciou tudo em seu coração.  


      

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