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quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Dona Benê - Ivonéte Miranda



DONA BENÊ

Ivonéte Miranda


A chuva caia desde cedo, fazendo muitas poças d’água na calçada.
Fiquei observando da janela o dia cinzento, quando vi a Dona Benê se aproximar com o velho vestido vermelho, a echarpe de sempre no pescoço, de meias listadas, com o chinelão do marido, pisando negligente nas poças.
O que eu não pude imaginar é o que pensou aquela senhora pernambucana quando começou a cantarolar o frevo no meio da tempestade, rodopiar o guarda-chuva colorido e dançar como se estivesse no Carnaval animado de Recife.
Por um minuto pensei que Dona Benê talvez estivesse interpretando a origem da palavra frevo, pois esta vem de ferver, já que o estilo de dança faz parecer que abaixo dos pés do dançarino exista uma superfície com água fervendo.
Observei então que a vizinhança também assistia ao impagável espetáculo.
Dona Benê se entregou a tamanho prazer que nem percebeu que ao realizar um passo mais acrobático do frevo esbarrou no gato que se escondia da chuva, e com o bicho pregado no traseiro continuou a dançar.


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