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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Adiante - Patricia Iasz


Adiante
Patricia Iasz

De ímpeto matriarcal ela se organizava como podia frente às dificuldades. Não vivia escolhas, mas circunstâncias. Mesmo assim, nada lhe tirava o vigor de seguir, firme e adiante. Sempre disposta, ainda que cansada, dedicava-se a dar diretrizes. Sabia que os dois filhos, a mãe e o marido dependiam disso. A trajetória diária era do casebre à fabrica de calçados. Enquanto ela trabalhava na faxina, o marido e seus dois filhos ficavam na linha de produção. Já a mãe, devido a avançada idade, passava o dia numa associação que despendia cuidados aos mais idosos. Sorte. Esta ficava exatamente duas travessas adiante do local de trabalho.

            Ela, a mais robusta entre eles, ia antecipada. Sua mãe, devido as artroses e dores, caminhava vagarosamente, mas sempre amparada pelo seu esposo. Homem magro e alto,  que reduzia os passos para estar próximo à frágil sogra. Os filhos, parecidos com o pai, seguiam a mãe carregando  bagagens.

            Sua simplicidade era evidente. Estava nas roupas envelhecidas e no odor forte exalados. Rotineiramente assim.


            Certa manhã, a mãe recebera um envelope contendo uma carta.  Como era analfabeta. Guardara a carta no bolso e jogara fora o envelope. Iria dar ao patrão o papel letrado para ele revelá-la. E a surpresa ali descrita vinha de um lugar distante. De um território sertanejo. Pura sorte. É que, por um trâmite qualquer, a família descobrira que era herdeira de um solo árido. Talvez, exigindo uma lida maior que o de trabalhar na cidade grande, mas ainda assim, resolveram voltar ao Nordeste. A mãe irradiava alegria e ânimo a todos, afinal, sabia que aquela terra era verdadeiramente deles e nela poderiam ter o prazer de possuírem algo.

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