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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Cascata do amor em fúria - Patricia Iasz



Cascata do amor em fúria
Patricia Iasz

        A fúria de Lucimara acionara uma ideia. Queria, a qualquer custo, ver os dois distanciados. Lembrou-se de que certa vez, sua madrasta, dera cabo num rato intruso que revirava sua dispensa. Para isso, ela colocara um poção de veneno misturado a uma porção de queijo ralado. Dias depois, nunca mais o roedor fora visto.
        Os grãos acinzentados pareciam inofensivos e alguns deles ainda estavam guardados no armário da lavanderia. Esperta e envolta de má intenção, Lucimara preparara saborosos pães de mel para presentear Brito e Brigite quando eles passassem novamente em frente à sua janela. Cuidadosamente os pães de mel foram envenenados e entregues ao casal numa manhã de sábado. 

Brito e Brigite, envoltos de um recente ingênuo amor, nada desconfiaram de Lucimara e resolveram degustar o doce presente no jardim da casa de Dona Matilde. A mãe de Brigite viajara com o pai para visitar os avós numa cidade vizinha. Lá, entre abraços e beijinhos, mordidas provocativas eram dadas nas guloseimas como acréscimo às chamas ardentes deste encontro à sós.

Tempos depois um mal estar. O casal passara a sentir fortes dores na barriga. Assustados e desconfiados das guloseimas, lembraram-se de Lucimara e do seu último sorriso irônico. Tarde demais, já estavam envenenados. Entremeados pelo intenso desconforto, abraçaram-se forte. Palavras acolhedoras os faziam mais próximos e unidos, afastando aquele evidente medo da morte. O calor e o suor tocavam intensamente seus corpos, queriam fugir, mas não podiam. O entrelace era a única segurança que os envolviam naquele instante de risco eminente e letal. Como Romeu e Julieta num drama poético, foram encontrados já mortos, ao fim daquele mesmo dia, Estavam caídos, duros e atados em meio a tantas flores. Belezas silenciosas e únicas testemunhas do término daquele magnífico amor. Para sempre e eternamente.

No dia seguinte a polícia batera à porta de Lucimara. Esta fora evidenciada como suspeita e autora dos crimes. Mesmo negando sua participação nesta fatalidade, fora desmascarada e sentenciada. O que Lucimara não desconfiara é que Brigite também tinha um anonimo apaixonado. Era Lécio, e que no dia da morte do casal também os seguiam às escondidas. Fora ele quem vira Lucimara entregar o pacote aos dois, pela janela. Denunciou tudo para a policia. Estava enfurecido com a perda de seu grande amor. Queria vingar-se de Lucimara colocando-a na prisão. “Que esta filha de uma égua apodreça atrás das grades”.

O amor tem muitos cursos.  Jaz e faz perecer. Foi assim com Brito e Brigite. Com Lucimara e Lécio. 




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