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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Cartas guardadas - Patricia Iasz



Cartas guardadas
Patricia Iasz

Sentada no sofá, com aquela pequena caixa de sapados nas mãos. Deixou-se levar pelas recordações. Tempos que se distanciavam de Hilo, o responsável atual pelo desfecho de sua dor.

         Ivana, apesar da vida simples, vivia intensamente o cotidiano ao lado de Rubens,  ex-namorado do assassinado por um crime passional. As cartas guardadas, revelavam escritas de um amor corriqueiro. Nelas, o ex-namorado gostava de descrever seus passeios e o quanto isso era importante para ele. Era habitual, nos finais de semana, os dois passearem pela cidade. Entrelaçados e com brincadeiras espontâneas, riam enquanto as horas tardavam em passar. É que o amor tem este gracejo de atrasar os ponteiros.

         Recorda ela, pelas entrelinhas do amado, das visitas frequentes feitas aos museus da cidade. Também das andanças pelo centro da capital onde, sentados num banco ou mureta da praça, tomavam  sorvete ou comiam pipocas vermelhas. Ah... e as noites de baile. Dançavam madrugadas inteiras sempre envoltos numa alegria de alma. Nada era inoportuno. Entre os dois, sempre existira a cumplicidade. Valor que fora rompido com a chegada de Hilo.

Por alguma razão  a presença deste oriental trouxe inúmeras novidades de fora. Isso aguçara Rubens a uma proximidade cada vez mais estreita com Hilo. A amizade virou entrelace e por um súbito instante, tornou-se relacionamento relâmpago. Lembra Ivana, o quão irreconhecível se tornara a mudança abrupta de seu amado. Irritado com uma certa constância, já a evitava por períodos prolongados e nenhum passeio era, para ele, mas satisfatório. O amor esfriara...


Não! Relutava Ivana com sua mente. Desejava esquecer este triste momento e impulsionava-se a apegar-se àquelas cartas felizes escondidas na pequena caixa de papelão. Alí  as lembranças geravam motivos de alívio, e o amor entre eles se tornava  único e verdadeiro, voltado somente para uma eternidade. Em seu coração partido e fragilizado Rubens ainda vive e continuará num processo contínuo de reconstrução. Pelo menos será assim os motivos que a fazem repensar no amanhã como ousadia de seguir adiante. Um desafio de tornar o passado,  aliado de um futuro mais leve. O presente, sem Rubens e sem Hilo, agora é memória. Não sabe por quanto tempo isso será uma realidade diária, mais carrega consigo uma certeza. Ela, Ivana decidira seguir o caminho que recordará seu amor com Rubens e nada mais... .

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