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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Sonho encantado - Patrícia Iasz



Sonho encantado
Patrícia Iasz

A boneca sentara no jardim e convidara os animais para uma conversa. Na verdade, queria mesmo é contar histórias. Amiga de todos, seu jeito engraçado atraía a atenção em sorrisos largos. Começou a prosa reavivando a selva de pedra onde humanos construíram seu habitat. Afoita como sempre e cheia de articular dos braços, Emilia explicava o que eram os arranha-céus que margeavam as compridas avenidas da cidade. Dizia que eles contemplavam o vai e vem de passos apressados como quem, a todo instante, estava por perder as horas.

         “É assim que as pessoas vivem!” – exclamava a boneca. E com elas, jamais se pode falar como agora ou correr pela floresta como se faz por aqui. É que ora se está sentada sobre uma cama como enfeite. Noutra, esquecida num baú ou armário qualquer, até que o fim da tarde chegue e as crianças voltem da escola. Mesmo assim, bonecas não passam de retalhos de panos costurados e os brinquedos eletrônicos sempre acabam por ocupar seus espaços de melhor companhia. Ah... estes sim tinham vida e gargalhavam com a infância num entretenimento de vídeos cheios de ruídos e  movimentos estranhos.

         Em suspiros indignados, o zumzumzum na floresta se agitava entre os bichos. É que eles também se sentiam esquecidos pelas pessoas, que só os procuravam como divertimento de caça ou como bichinhos de estimação.

         Calma! – dizia Emilia. E acrescentava: - Nada de pânico na mata! Vamos nos unir em beleza e diversão, assim esta nossa harmoniosa partilha chamará a atenção desta gente tão carente de afeto e compreensão.

         Neste recente formato de viver. O leão abraça o urso. O gavião conversa com a lebre. A cobra se enrola com o tatu e dividem a mesma toca. Já o canto do canário da terra faz a coruja dormir um ronco profundo e se tornou distração para o faceiro quero-quero. O Sabiá sabia já que a dona onça pintada ia nadar a tarde inteira com a dona lontra negra, na lagoa mansa.


De repente, Emilia, viva como nunca, lembrou. “O sítio do pica-pau amarelo é o melhor lugar do mundo! Local, que é um sonho de viver! Faz gente brincar com bicho e boneca renascer. Tudo tem forma nova e permite o acontecer. 

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